“A entrada de novas entidades será um grande desafio”, Marcelo Silva, Auto Delta

Aliados à experiência do comércio de peças e acessórios automóveis há cerca de 43 anos, a Auto Delta distingue-se por ser um dos principais players do mercado do aftermarket português
Para continuarem a crescer, novas instalações vão dar a possibilidade à empresa de diversificar ainda mais a sua oferta. Centrados desde a sua criação em fazer mais e melhor, o ano de 2022 será decisivo para o crescimento das redes de oficinas CGA Car Service e Multi Oficina Service.
Marcelo Silva, Diretor Geral da Auto Delta, revelou como tem sido o desenvolvimento destas redes: “A adesão continua a correr muito favoravelmente tendo-se mesmo denotado um crescimento de interesse em ambas as redes bem como na resposta que lhe está associada. Neste momento contamos com cerca de 80 estabelecimentos aderentes que, mais que serem importantes para o negócio da Auto Delta, são-no para os seus retalhistas locais. A organização das redes CGA Car Service e Multi Oficina Service privilegia a relação oficina-retalhista-distribuidor, permitindo que o elo intermédio desta cadeia, tantas vezes menosprezado, possa ganhar rentabilidade com a adesão dos seus clientes”.
Considera que ainda há espaço para o aparecimento no mercado de mais redes de oficinas? Porquê?
Haverá sempre espaço para redes oficinais que façam a diferença, proporcionando serviços diferenciados e acesso a dados e ferramentas que possam beneficiar claramente a vida diária de uma oficina de reparação automóvel; é por aí que nos guiamos e prova disso tem sido o crescimento sustentado da CGA Car Service e Multi Oficina Service.
De que forma a Auto Delta proporciona serviços que ajudam as oficinas a gerir melhor os seus negócios diariamente?
Através da CGA Car Service e Multi Oficina Service, os aderentes têm acesso a plataformas de apoio técnico, uma linha de apoio técnico, um conjunto de máquinas de diagnóstico que representam o que de mais avançado existe no mercado e ainda acesso a formação técnica: online, presencial, prática ou teórica, a escolha é da oficina.
A Auto Delta continua a apostar na diversificação do seu portfólio de marcas. Quais as incorporações mais recentes e que novidades estão previstas para este ano?
A diversificação do portefólio é uma constante na vida da Auto Delta sendo que, este ano, contamos com novidades como a Delphi, um dos mais renomados fabricantes de material elétrico e eletrónico, a Hepu, líder no sector das bombas de água, e ainda a Brembo, um nome grande no que toca a sistemas de travagem ou a Bilstein, com uma gama completa de amortecedores bem como de amortecedores pneumáticos. Cumprindo o que é nosso apanágio, muitas novidades se seguirão no nosso portefólio, procurando disponibilizar os melhores produtos do Aftermarket nas melhores condições comerciais possíveis.
Têm realizado ações de formação para as oficinas clientes dos vossos parceiros retalhistas?
A pandemia obrigou-nos a “travar a fundo” no que toca a realizar ações de formação presenciais. No entanto, têm sido diversos os eventos interativos onde os nossos retalhistas têm marcado presença e, esperamos todos nós, com o abrandar da pandemia e da aceitação do “novo normal”, possamos fazer um investimento muito forte na formação dos nossos parceiros comerciais.
Ao final de quase dois anos de pandemia, os efeitos da crise para o negócio da Auto Delta foram piores ou menores do que esperavam?
Nem uma coisa nem outra, os efeitos acabaram por ser na sua esmagadora maioria como esperávamos a partir daquele fatídico mês de Abril de 2020: esperávamos uma quebra acentuada no início mas sempre acreditámos numa possível estabilização gradual que veio a acontecer. Depois, foi a tradicional crença numa equipa unida e consciente do desafio e no tecido de parceiros espalhados pelo país que mostrou grande capacidade de resistência nos piores momentos.
Quais os grandes ensinamentos que a pandemia trouxe para a Auto Delta, a nível da gestão, estratégias comerciais e prestação de serviços?
Em primeiro lugar, a pandemia e o comportamento dos consumidores demonstrou, mais uma vez, que a nossa estratégia tradicional se encontra correta. Com as devidas pequenas correções, mas foi devido a ela que conseguimos ultrapassar este momento mais difícil. Depois, ficou mais uma vez demonstrado que o teletrabalho é possível em determinadas funções e que afinal não torna o trabalho mais lento pelo simples facto de não se estar presencialmente no local de trabalho.
Que efeitos estão a ter na vossa atividade a dificuldade de abastecimento de peças junto dos vossos fornecedores?
Essa dificuldade é um facto e tem sido um fator mais complicado de eliminar no que toca à normalização da atividade comercial por parte de todos os players. A escassez de semicondutores e o encarecimento das matérias-primas é algo que parece ter vindo para ficar e cabe-nos dar a volta a essa situação.
Que alternativas foram levadas à prática para compensar essas dificuldades?
É necessário principalmente procurar alternativas de fornecimento onde as há, permitindo que os produtos cheguem onde é necessário: às oficinas de reparação automóvel. Depois, tivemos que realizar alguns ajustes face ao encarecimento de matérias-primas, fenómeno que se verifica em todos os elos da cadeia: desde o fabricante até ao reparador.
Considera que os preços das peças vão aumentar nos próximos tempos?
Não temos nenhuma bola de cristal, mas parece-nos que um aumento de preços, nomeadamente em produtos e marcas premium, onde o mecânico coloca toda a sua confiança, será inevitável. Não deverá ser uma revolução mas antes um ajustamento até porque muitos destes produtos apresentavam preços bastante lisonjeiros.
Como a Auto Delta tem conseguido minimizar o impacto das devoluções a nível de custos e recursos humanos afetos à gestão dessas devoluções?
O problema logístico das devoluções é algo já identificado há muito por todos os players do Aftermarket mas para o qual tem sido complicado encontrar uma solução eficaz. Na Auto Delta temos procurado sensibilizar os nossos parceiros comerciais para a importância duma boa identificação, fornecendo-lhes os meios para tal, bem como para a capacidade de resposta que, com um impacto muito forte de devoluções, poderá ficar seriamente comprometida.
A base do negócio pós-venda automóvel é o acesso à informação e aos dados. Como está a Auto Delta a adaptar-se e esta nova realidade?
Hoje em dia todas as movimentações e comportamentos são dados e vingará no futuro quem os conseguir trabalhar pois o fluxo já existe e é bastante forte. Na Auto Delta já procuramos tratar grande parte da informação que nos chega, procurando diversificar e reforçar a nossa gama de produtos e serviços, proporcionando aos nossos parceiros comerciais uma melhor experiência.
Os fabricantes de automóveis estão cada vez mais ativos no mercado pós-venda. Como vai ser no futuro a convivência entre as marcas de origem e as de aftermarket?
A convivência será igual à que temos tido com todos os players: saudável e profícua. Se todos respeitarmos as regras do mercado não haverá razões para que haja algum mal-estar mas, a verdade é que os fabricantes de automóveis enfrentarão um mercado maduro e repleto de empresas especializadas com forte capacidade de tracção um pouco por todo o país, deixando pouca margem de manobra para novos contendores.
A concentração do negócio da distribuição de peças é uma realidade. Considera que esta tendência vai continuar na Europa e em particular no nosso país?
Sim, assistiremos sem dúvida a mais fenómenos de concentração. Em Portugal já se verificaram alguns ao nível dos distribuidores e tem sido notório o crescimento dos grupos de retalhistas que, dessa forma, tentam ganhos de escala para os seus negócios. Se os ganhos de escala fruto do crescimento são uma realidade, a verdade é que, tornando-se grandes demais, estas entidades poderão perder rapidez e agilidade na relação com o mercado e, consequentemente desperdiçar boas oportunidades de negócio.
Estamos a assistir a uma polarização do parque, com um aumento dos veículos mais recentes (até 5 anos) e dos mais antigos (mais de 10 anos), enquanto o parque de veículos dos 5 a 9 anos está a diminuir. Que efeitos esta situação está a causar no comércio de peças?
Esta disparidade não se deveria de todo verificar pois ainda estamos a “alimentar” um parque automóvel com imensas unidades que deveriam já ter seguido para abate mas que, continuando em funcionamento, acabam por ter as consequências ambientais que todos conhecemos. Existe claramente um “gap” no portefólio de peças para automóveis que todos os players deverão disponibilizar quando a oferta deveria ser algo linear e proporcionalmente superior quanto mais recente é o produto. Porém, este é um fenómeno com causas estruturais fruto da situação económica nacional dos últimos anos e cuja resolução terá sempre de passar, acreditamos nós, por incentivos ao abate e à aquisição de viaturas novas.
Os veículos elétricos requerem menos manutenção do que os veículos a combustão. Como a Auto Delta está a preparar-se para compensar as perdas de faturação que estes veículos vão originar?
Através do posicionamento global da empresa. Mais que vender apenas peças para automóveis, a Auto Delta será um distribuidor apostado em disponibilizar soluções de reparação para o mercado que, ancorada no core business tradicional, agregará um conjunto de respostas que permitirão a manutenção do crescimento que temos sentido.
Que análise faz do mercado de distribuição de peças automóvel em Portugal e como vê o futuro dos canais aftermarket e de peças originais?
Acreditamos que este mercado é muito forte e um dos pilares da atividade económica nacional. Está povoado de players fortes e especializados, capazes de marcar a diferença tanto ao nível nacional (os distribuidores) como local (os retalhistas) e que conseguiram, ao longo dos anos, conquistar quota de mercado e influência aos distribuidores originais que claramente não se conseguiram adaptar a um mercado onde o consumidor prefere deslocar-se a uma oficina independente. Ao nível da reparação, a ação das redes oficinas será também decisiva para perscrutarmos de forma mais eficiente o que será o futuro deste setor mas, na verdade, a manter-se este comportamento, estaremos perante um mercado mais forte, dia após dia.
Considera que os canais de distribuição tradicional vão manter-se: Fabricantes – Distribuidores – Retalhistas – Oficinas?
Acreditamos que sim ou a organização das nossas redes oficinais CGA Car Service e Multi Oficina Service não seguiria este desenho da cadeia. A verdade é que o distribuidor, apesar do maior poderio financeiro, dificilmente conseguirá ter a influência local em que os retalhistas se ancoram. Ainda assim, haverá comportamentos contrários a esta teoria e na Auto Delta teremos de estar vigilantes para defender a nossa quota de mercado.
Quais são as maiores mudanças que a distribuição de peças vai enfrentar nos próximos anos?
Ao nível do parque automóvel, a eletrificação e a emergência de novas formas de motorização serão fenómenos que poderão deixar para trás alguns players se a adaptação não começar já e de forma gradual. Depois, acreditamos que a entrada de novas entidades, nomeadamente as especializadas no comércio eletrónico, serão um desafio muito interessante, até pela dimensão dessas empresas e para verificar a capacidade de adaptação a uma diversidade de mercados muito diferentes, com hábitos distintos entre eles.




