“Maior rigor e não entrar em pânico trocando peças por dinheiro”, Paulo Torres, Vieira & Freitas
Com mais de 35 anos de experiência no setor automóvel, nem a longevidade preparou a Vieira & Freitas para os efeitos da crise pandémica no negócio. Felizmente, as negras previsões de março de 2020 não se fizeram sentir, e foram até “bem menores” do que o esperado, ainda que Paulo Torres, administrador da empresa, tema “algumas dificuldades que ainda estarão para vir”.
Na crise sanitária, a Vieira & Freitas soube ser “resiliente” e deixou uma nota de confiança, com o responsável a garantir que “somos capazes de nos superar quando menos contamos”.
Agora são as falhas de stock que preocupam o mercado e Paulo Torres prevê que esta seja “uma dificuldade que está para ficar mais uns tempos”, e que, em último caso, provocará a perda de vendas. O responsável não acredita que os preços das peças subam além da inflação “que deverá aumentar por influência macroeconómica”.
Paulo Torres analisa a crescente perda de margem na comercialização das peças de forma fria, dizendo que estas “são sempre culpa própria. É necessário maior rigor e não entrar em pânico ao ponto de trocar peças por dinheiro”. Para o administrador da Vieira & Freitas, “inovar e estabelecer parcerias de qualidade” é a forma de garantir a base do negócio pós-venda automóvel: o acesso à informação e aos dados. E, na sua opinião, não será o endurecimento da legislação em matéria de «segurança de componentes» que irá derrubar os distribuidores de aftermarket, “desde sempre constantemente atacados pelos fabricantes automóveis de forma a ser-lhes vedado o acesso a peças de qualidade”.
Quais os grandes ensinamentos que a pandemia trouxe para a Vieira & Freitas?
Esta pandemia tem dado um grande ensinamento a todos que é sabermos ser resilientes e termos confiança, pois somos capazes de nos superar quando menos contamos.
Como a Vieira & Freitas tem conseguido minimizar o impacto das devoluções a nível de custos e recursos humanos afetos à gestão dessas devoluções?
As devoluções são um grande problema atual de todo o comércio. Temos de nos adaptar e assumir os custos que dai advêm.
Que efeitos está a ter na vossa atividade a dificuldade de abastecimento de peças junto dos vossos fornecedores?
É mais uma dificuldade que está para ficar mais uns tempos, temos de minimizar o prejuízo que isso causa.
Que alternativas foram levadas à prática para compensar essas dificuldades?
Não somos fabricantes, logo não conseguindo fabricar as peças em falta no mercado teremos que perder essas vendas.
Considera que os preços das peças vão aumentar nos próximos tempos?
Acho que não para além da inflação que deverá aumentar por influência macroeconómica.
A perda de margem na comercialização das peças está a criar dificuldades às empresas de distribuição. Como se pode alterar esta situação?
As perdas de margem são sempre culpa própria, e obviamente cria dificuldades. É necessário um maior rigor e não entrar em pânico ao ponto de trocar peças por dinheiro.
Com o endurecimento da legislação em matéria da “segurança dos componentes”, a homologação de peças de substituição pode aumentar, designadamente para o sistema ADAS. Considera que esta situação pode condicionar a atividade dos distribuidores de peças aftermarket?
Os distribuidores do aftermarket são desde sempre constantemente atacados pelos fabricantes automóveis de forma a ser-lhe vedado o acesso a peças de qualidade, contudo, este ramo é forte e tem sempre superado estas dificuldades, certamente continuará a vencer algumas batalhas.
Os fabricantes de automóveis estão cada vez mais ativos no mercado pós-venda. Como vai ser no futuro a convivência entre as marcas de origem e as de aftermarket? Quem vai ganhar a maior fatia do mercado pós-venda?
É uma guerra antiga, desde sempre, nós acreditamos que pouco vai mudar neste particular.
A concentração do negócio da distribuição de peças é uma realidade. Considera que esta tendência vai continuar na Europa e em particular no nosso país? Quais as vantagens e inconvenientes da concentração do negócio de peças?
Sim, acho que a concentração / fusão / aquisições vão continuar neste sector com vantagens e inconvenientes, uns irão ter vantagens outros irão concentrar-se com o parceiro errado e vão sair a perder. A concentração do negócio da distribuição de peças terá de ser analisado caso a caso e não como se todas as concentrações tivessem o mesmo resultado.
Quais serão as maiores ameaças e, por outro lado, quais serão as maiores oportunidades de toda esta evolução do negócio aftermarket?
Acho que as maiores ameaças são as legislações sobre emissões por vezes só politicamente corretas que estão a levar o parque a ser substituído por veículos elétricos que serão a curto prazo insustentáveis, e provocarão graves problemas de equilíbrio de energia.
Tendo em conta a sua experiência no setor da distribuição de peças, que análise faz do mercado de distribuição de peças automóvel em Portugal e como vê o futuro dos canais aftermarket e de peças originais?
O mercado de distribuição de peças automóvel em Portugal está a passar por uma indefinição, contudo o futuro será idêntico para ambos os canais e passará pela qualidade de serviço que cada sector conseguir prestar.
Qual a sua opinião relativamente aos protagonistas do mercado pós venda automóvel? Considera que os canais de distribuição tradicional vão manter-se: Fabricantes – Distribuidores – Retalhistas – Oficinas?
Infelizmente estes canais já não são tão estanques como eram no passado, os Fabricantes ultrapassam todos estes canais com as lojas on-line globais, os retalhistas e oficinas acedem diretamente a fabricantes, ou seja, o primeiro a ter de se adaptar é mesmo o distribuidor na forma tradicional que conhecemos.
Que balanço faz do desempenho da Vieira & Freitas nestes dois últimos anos marcados pela pandemia?
O desempenho da Vieira & Freitas tem sido positivo, graças a uma equipa comprometida e de qualidade, que conseguiu superar-se e enfrentar com coragem e resiliência todas as contrariedades que esta pandemia nos trouxe. 2022 será como 2021 um ano positivo e de crescimento. Será também um ano marcante na nossa história.