Qual o futuro da formação automóvel?
O futuro da formação automóvel será fortemente influenciado pela transformação digital, a eletrificação dos veículos e a crescente exigência por profissionais altamente qualificados. As oficinas e os técnicos precisarão adaptar-se rapidamente às novas tecnologias para se manterem competitivos, e fazerem uma aposta na formação contínua dos seus profissionais
As oficinas que investirem na capacitação dos seus técnicos terão mais competitividade e qualidade nos serviços prestados. Além disso, a digitalização e a eletrificação dos veículos exigirão que os mecânicos adquiram habilidades tecnológicas, eletrónicas e de software, garantindo um setor mais inovador e preparado para os desafios futuros.
Mas para se conseguirem resultados efetivos, é necessário permitir que a formação consiga inserir corretamente as funções na estrutura organizativa da oficina e nos seus objetivos. A formação não pode só por si resolver todos os problemas. É um erro pensar que a formação é uma panaceia universal. A formação só consegue obter resultados muito concretos se o perfil for adequado e se os métodos e as ferramentas utilizadas forem os mais recomendados. De pouco servirá ensinar um chefe de oficina a trabalhar com os sistemas de informação hoje disponíveis, se ele não vai ter um computador e software compatível no seu posto de trabalho. A gestão de uma oficina sem os modernos recursos informáticos será necessariamente empírica, por muito bom que seja o profissional. Tem que haver uma adequação entre o perfil, a função, a formação e a organização da empresa. Estes são os quatro vetores que podem introduzir valor acrescentado na oficina, desde que estejam devidamente articulados.
É conveniente, também, não encarar a formação como uma acto isolado e um fim em si. As coisas vão evoluindo e o que pretendemos hoje não é necessariamente o que vamos querer amanhã. Os referenciais e o estilo que são válidos hoje é provável que não o sejam daqui a um ano.
Os produtos que hoje nós queremos fazer sobressair mudam constantemente, as pessoas também não são as mesmas, etc., etc. Como temos uma evolução constante e provavelmente cada vez mais rápida, a formação deve acompanhar as mudanças. Esse acompanhamento faz-se através de uma formação inicial, para quem é recém-chegado ou vai exercer pela primeira vez aquela função, devendo seguir-se uma formação dirigida para as necessidades da atividade e da empresa.
A formação inicial é do tipo “pronto a vestir”, enquanto que a formação contínua será do tipo “à medida”. Para quem trabalha na área da formação, o principal desafio é conseguir que os “fatos à medida” sirvam de forma perfeita e resultem com eficácia, para as necessidades do dia a dia.
Por outro lado, a revolução tecnológica no setor automóvel tornou-se um fator de sobrevivência, sendo de esperar que nos próximos anos os veículos sofram alterações profundas, que tornarão muitas das soluções anteriores anacrónicas e obsoletas. Técnicas de diagnóstico avançadas e operações de manutenção eletrónicas remotas terão maior peso relativo no pós-venda. A resposta a este tipo de evolução supõe um plano de formação sequencial, através de um levantamento contínuo de novas necessidades formativas. Não adianta muito formar pessoas por formar, ou fazer formação indiscriminada, sem saber muito bem o quê, nem para quê.
É importante que as oficinas avaliem a capacidade dos seus recursos humanos absorverem novos conhecimentos ou de integrar novos conhecimentos nas suas funções. Todos nós temos um limite para absorção de novos tipos de conheci- mento e muitas pessoas já atingiram esse limite.
Torna-se improdutivo realizar formação com pessoas que perderam a capacidade de evoluir. O resultado mais provável da evolução tecnológica acelerada no pós-venda, será a hierarquização ou escalonamento natural dos seus recursos humanos de acordo com as funções mais recentes e as mais tradicionais. A formação deverá ser dirigida para os diversos níveis de funções, de modo a manter a capacidade de intervenção nos diferentes sistemas e nas diferentes tecnologias.
Finalmente, outro papel relevante da formação será o de readaptar os elementos que deixaram de evoluir tecnicamente, mas que ainda têm aptidões para servir proveitosamente a empresa, até ao limite das suas capacidades úteis.
Em termos de conclusão, é necessário substituir a noção de profissão pela de função. A formação de base deve sofrer rápidas transformações, uma vez que muitos centros de formação profissional não reúnem os requisitos para os níveis de especialização que serão exigíveis.
É necessário ter a noção de que a flexibilidade e a polivalência são positivas, mas têm limites evidentes. O rumo certo será o de uma formação contínua e ajustada às necessidades de cada caso, tendo sempre em conta as necessidades de evolução, através do levantamento permanente dos meios e dos objetivos.