Produção automóvel regista subida salarial de 8,1% em 2024

Um estudo da Randstad Research revelou que os salários estão a crescer no setor automóvel, com destaque para a produção
A Randstad Research divulgou uma nova radiografia ao mercado de trabalho no setor automóvel, com base nos dados mais recentes do Eurostat, INE e Segurança Social. O estudo analisou a evolução do emprego, salários e estrutura empresarial de um setor que, apesar de representar apenas 3,9% do emprego total, tem um forte efeito multiplicador na economia nacional e assume-se como motor de inovação tecnológica e qualificação profissional.
No 1.º trimestre de 2025, o setor automóvel empregava 203,2 mil pessoas, registando uma ligeira subida de 0,2% face ao trimestre anterior. Este crescimento foi impulsionado, sobretudo, pela produção de veículos automóveis, que aumentou 1,7% nos primeiros três meses do ano, em contraste com uma quebra de 0,5% no comércio, manutenção e reparação de veículos.
A estrutura do setor revelou duas realidades distintas. O segmento do comércio, manutenção e reparação representa 64,6% do total de empregos (131,2 mil pessoas), enquanto a produção automóvel, mais especializada, emprega 72 mil pessoas (35,4%), com maior concentração geográfica e tecnológica.
Apesar do seu peso relativo, Portugal está acima da média da União Europeia no peso do setor automóvel no emprego: no 1.º trimestre de 2025, superava a média da UE em 0,7 pontos percentuais, ficando apenas atrás da Alemanha, Polónia e Eslováquia.
Ao contrário de setores mais dependentes do turismo, o setor automóvel apresenta baixa sazonalidade. Em fevereiro de 2025, representava apenas 2% do total de desempregados registados nos Centros de Emprego (6.046 pessoas), com tendências distintas entre as atividades: no comércio, o desemprego caiu para 2.528 pessoas; já na produção, aumentou para 3.518.
Regionalmente, o Norte lidera em volume de desemprego no setor, mas é no Centro que a atividade automóvel representa maior proporção face ao desemprego total regional (2,9%). Lisboa destaca-se pela maior disparidade entre comércio e produção.
Salários crescem 8,1% e reforçam atratividade do setor
A remuneração média no setor automóvel cresceu 61,9% nos últimos 20 anos e 8,1% só no último ano, refletindo a crescente necessidade de atrair talento. Em 2023, o salário médio na produção atingiu 1.759,95 euros, enquanto no comércio foi de 1.426,67 euros. A diferença salarial entre os dois segmentos aumentou para 332 euros, traduzindo a maior qualificação exigida na produção.
Esta evolução salarial evidencia não só a procura crescente por talento qualificado, como também a valorização do capital humano como fator competitivo.
Apesar deste crescimento, o setor mantém uma distribuição de género desequilibrada: 77% dos profissionais são homens (156,5 mil) e apenas 23% mulheres (46,7 mil), em contraste com a paridade de género no emprego nacional.
Quanto às qualificações, o setor caracteriza-se por uma forte presença de profissionais qualificados (43,7%) e semiqualificados (22,7%), o que impulsiona a formação contínua e o desenvolvimento técnico. Os quadros superiores, médios e chefias têm um peso mais reduzido, reforçando o foco operacional e técnico da atividade.
Mais empresas no comércio, maior emprego na produção
Analisando a composição do setor, os dados de 2023 revelaram uma divisão clara. A atividade de comércio, manutenção e reparação contava com 33.449 empresas, sendo o comércio de veículos responsável por 48.350 empregos. Já a produção automóvel, concentrada em apenas 680 empresas, empregava 42.892 pessoas — das quais 33.162 estavam concentradas em apenas 45 empresas, evidenciando a elevada escala industrial do segmento.
Estes dados permitem concluir que a produção automóvel se destaca por gerar emprego estável e qualificado, oferecer salários mais elevados e desempenhar um papel estratégico na transição tecnológica e no reforço da base industrial do país.
Para Isabel Roseiro, diretora de marketing da Randstad: “O setor automóvel mostra sinais positivos de estabilidade e valorização profissional, especialmente no segmento da produção, onde os salários e a qualificação continuam a subir. No entanto, o desequilíbrio de género e a dificuldade em atrair talento jovem e diverso mantêm-se como grandes desafios. Para garantir a competitividade futura, o setor terá de investir em inclusão e formação contínua, acompanhando a transformação tecnológica e as exigências de um novo perfil de trabalhador”.




