Formulação da tinta de acabamento
Uma vez selecionada a cor que se vai formular, é importante que a preparação da tinta, mediante a mistura das cores básicas que a formam na proporção indicada pelo fabricante, seja feita de forma que se consiga que a mistura preparada corresponda fielmente à formulação estabelecida
Para conseguir isto, há que colocar em especial atenção, em primeiro lugar, que a balança esteja perfeitamente calibrada e nivelada; se não for assim, dificilmente será possível reproduzir exatamente a fórmula da cor selecionada. Em segundo lugar, antes de extrair qualquer tinta, há que se certificar de que todas e cada uma das cores de mistura básicas a utilizar (as embalagens) foram previamente homogeneizadas; ou seja, foram abanadas na medida necessária para garantir que a quantidade de tinta extraída delas corresponda à mistura de todos os componentes.
Caso contrário, se for extraída uma quantidade de tinta sem homogeneizar a mistura na embalagem, não só irá influenciar no resultado da cor que está a ser preparada, mas, para além disso, o resto da tinta contida na lata básica também ficará alterada (se uma quantidade de material não homogeneizado for extraída, o que fica na lata nem corresponderá à mistura com as proporções iniciais), isto irá alterar todas as misturas posteriores nas que intervenha a cor básica alterada.
Segundo o tipo de tinta, esta homogeneização pode ser mais ou menos fácil de se realizar. As embalagens têm de ser dispostas em um mecanismo que permita realizar uma agitação mais intensa mediante a introdução de um agitador no interior de cada lata, esses agitadores são acionados de forma conjunta em todas as misturas básicas dispostos nas distintas prateleiras da máquina de mistura.
Atenção às quantidades indicadas
Ao cumprir esses requisitos, deve ser o mais preciso possível na adição das quantidades indicadas pela fórmula de cada um dos básicos que intervenham na formulação da cor que está a ser preparada. Com especial atenção nos casos em que a quantidade de um dos básicos seja muito reduzida para o volume total a preparar, uma vez que, nestes casos, as pequenas diferenças a respeito da quantidade que se tenha realmente de acrescentar resultam ser bastante notórias no resultado final. Isto pode ser perfeitamente entendido com os seguintes exemplos: Se a formulação de uma cor cinzenta resultar da mistura de 50 gramas de branco e outras 50 gramas de preto, é cometido um erro e as 50 gramas de branco se acrescentam 51 de preto, ou seja, uma grama a mais em relação à fórmula indicada e embora isto seja, de qualquer forma, uma falha de medição inadmissível (uma grama de diferença na medição de um básico é muito no ambiente das quantidades preparadas em retoque), o certo é que o cinzento obtido, embora seja diferente ao que se pretendia obter, esta diferença seja pequena e pouco percetível; sobretudo se compararmos com o seguinte cenário, no qual a fórmula de outro tom cinzento consista na mistura de 98 gramas de branco e 2 gramas de preto. Neste caso, se cometêssemos o mesmo erro absoluto como no caso anterior, ou seja, adicionar 3 gramas de preto. Uma grama a mais, como no caso anterior, mas no primeiro dos cenários o erro foi de adicionar 2% a mais da quantidade indicada da fórmula, neste segundo cenário representa 50% a mais, pelo que é fácil de intuir que a cor obtida será completamente distinta do que se pretendia reproduzir.
Em alguns casos, a proporção em que entram um ou mais básicos na formulação da cor é tão pequena que, para poder assegurar as medições com um mínimo da exatidão, os fabricantes propõem uma quantidade mínima de tinta a preparar. É nestes casos que se deve ter mais cuidado na pesagem dos componentes. Isto costuma acontecer com os brancos, onde para além do branco básico, acrescentam-se quantidades muito pequenas de outros básicos (azul, amarelo, etc.).
O último aspeto que comentamos em relação à preparação das tintas é o referido à diluição e/ou catalisação da mistura no momento antes da aplicação. Deve ser feito com os produtos indicados pelo fabricante em função das condições de aplicação; como, por exemplo, o diluente adequado para a temperatura ambiente à qual se vai realizar a aplicação aerográfica. O mesmo com os endurecedores ou catalisadores, no caso de tintas monocamadas ou bases bicamadas às quais seja necessário adicionar o ativador segundo o processo de tinta requerido; e sempre com os produtos indicados pelo fabricante e nas proporções assinaladas.
Aplicação da tinta e do verniz
Também durante a aplicação aerográfica da tinta encontramos fatores que condicionam a igualação da cor: As pistolas usadas devem estar sempre limpas antes de cada uso; obviamente não podem ficar restos de tinta de processos anteriores que se misturariam com a tinta a ser aplicada. A configuração dos parâmetros da pistola deve ser a indicada para cada produto que vá a ser aplicado, diâmetro do bico, pressão, taxa de fluxo, etc. A respeito das condições ambientais de temperatura e humidade, durante a aplicação devem estar dentro das margens descritas pelo fabricante; e no caso de se encontrar nos limites destes, usar os diluentes e catalisadores adequados a essa temperatura. Com tudo isto assegura-se que a evaporação dos componentes voláteis da tinta se realize da forma concebida pelo fabricante; caso contrário, poderia produzir evaporações demasiado rápidas em algumas zonas, o que daria lugar a que os pigmentos não se fixassem uniformemente em toda a extensão pintada ao aparecerem zonas com diferentes tonalidades.
Por outro lado, é imprescindível respeitar os tempos de evaporação entre a aplicação de cada mão, senão, para além de outros defeitos de tinta como escorrimentos, também se vê afetado o aspeto final da tinta, uma vez que os pigmentos presentes na tinta evolucionarão de forma diferente, sobretudo no caso de pigmentações metálicas e peroladas. Neste sentido, também é de notar que é dada especial importância nos acabamentos metálicos e perolados, a finalização da aplicação da base de cor com uma última mão de aplicação mais aligeirada e extensa que normalmente é denominada como “mão de controlo” para ajudar à igualação do acabamento em toda a extensão pintada.
Técnica de desfocagem
Na igualação da cor, utilizar a técnica de desfocagem é uma boa opção. Esta técnica consiste em que, uma vez reparada a zona deformada em uma peça, aplicadas e lixadas as tintas de fundo, em vez de aplicar uma camada completa de tinta base a toda a peça, fazê-lo em extensões cada vez maiores, em torno da zona reparada, desta forma consegue-se uma transição gradual entre a tinta preexistente na peça com a nova camada de tinta, para que se houvesse uma diferença mínima de cor entre ambas as camadas, esta ficaria quase impercetível. Além disso, no caso dos acabamentos metálicos, em que o efeito final conseguido depende, para além da formulação da cor utilizada, da forma de aplicação da tinta (distância de aplicação, velocidade de varrimento, …), porque, ao depender o que for, as partículas do pigmento metálico serão orientadas de uma forma ou outra, ao obter resultados com graus distintos de brilho de acordo os diferentes ângulos de visão.
Relativamente à última camada de tinta … leia o artigo completo na edição impressa ou online do Jornal das Oficinas nº223, aqui.