Final de ano invulgar
Estamos a chegar ao final de mais um ano atípico e invulgar, com as empresas aftermarket a recuperarem lentamente a quebra que tiveram em 2020, mas ainda muito cautelosas em relação ao futuro próximo que se apresenta cheio de desafios e muitas incertezas
A pandemia está longe de estar controlada, e a qualquer momento podemos ser de novo confrontados com períodos de confinamento. Na vertente económica, o aumento do custo de matérias-primas, da produção, da logística e em particular do transporte (seja marítimo, aéreo ou terrestre) numa escala nunca antes vista em tão curto espaço de tempo, terão necessariamente reflexo no preço dos produtos. E esta não é uma realidade exclusiva das marcas premium, mas sim de qualquer fabricante de peças. Mesmo com a estabilização dos preços, existe a possibilidade real que os preços das peças não baixem, depois de terem subido, tornando-se assim numa nova realidade. Independentemente do posicionamento do produto, premium ou outro, os preços das peças já aumentaram em 2021 e irão continuar a aumentar.
Em consequência destes fenómenos, a perda de margem é inevitável, sendo necessário que todos façam alguma ginástica financeira e contribuam para que haja estabilidade. Só assim o setor conseguirá lutar contra as perdas de margem e impedir que alguém saia fragilizado. A preservação dos canais de vendas poderia ajudar a evitar a perda de margens, mas há distribuidores e marcas automóveis que ultrapassaram este canal e vendem diretamente às oficinas, esmagando as margens. Brevemente, poderão até mesmo ultrapassar as oficinas e atacar o cliente final. Os distribuidores que esmagam margem de comercialização por forma a serem competitivos ao nível do preço, não libertam recursos para investir em novos projetos, melhorarem processos, e conseguirem prestar um serviço mais eficaz e cada vez com maior qualidade e valor acrescentado para o cliente.
Um dos receios que se verifica hoje nem é tanto o preço das peças, mas sim a existência em stock das próprias peças, o que nem sempre é possível. As falhas de stock são uma realidade que está a afetar bastante o setor, porque acabam por ser frustrantes para o distribuidor e para os seus clientes. Este fenómeno, sem precedentes nesta dimensão, é resultado de muitas variáveis que vão desde a disponibilidade de matéria prima para produção até ao transporte dos produtos ao distribuidor não sendo de negligenciar também do ponto de vista económico, o aumento de custos de todos estes elementos. Na distribuição assiste-se à concentração do negócio em grandes grupos e o desenvolvimento de plataformas B2B que estão a alterar o modelo tradicional de negócio.
As marcas automóveis, por sua vez, vão melhorar o seu posicionamento a curto prazo na distribuição de peças de substituição, num mercado no qual as barreiras entre o canal de marcas e o canal independente tendem a desaparecer. O número de decisores sobre onde realizar a reparação do veículo irá diminuir, o que resultará numa concentração do negócio de pós-venda.
Por outro lado, a consolidação da redução da procura por veículos diesel pode colocar em perigo a sustentabilidade de alguns fabricantes de peças de substituição e o acesso aos dados do veículo tornará este num elemento ativo no sistema de pós-venda, sendo que o futuro da mobilidade será elétrico. Estas tendências vão afetar o volume e a estrutura do mercado bem como os modelos de negócio de todos os agentes.
Para ultrapassar tantos desafios e incertezas, as empresas têm de manter as suas estruturas muito bem preparadas para conseguirem adaptar-se rapidamente a mudança profundas. Apenas com uma gestão do negócio muito rigorosa e atempada, é possível que as empresas consigam ter alguma tranquilidade em momentos de grande incerteza. Só uma gestão rigorosa poderá salvar muitas empresas.