Escassez de automóveis vai continuar

03 - Escassez de automoveis vai continuar

No mês de março, a equipa de Customer Experience da World Shopper foi tentar comprar automóveis novos eletrificados em Portugal, simulando a abordagem de Clientes particulares. Analisou 12 modelos, dos quais 9 BEVs e 3 PHEVs, em 48 concessionários das regiões de Lisboa e Porto

Considerando as atuais dificuldades de produção que a indústria atravessa um pouco por todo o mundo, é natural que os clientes se tenham deparado com um prazo médio de entrega de cerca de 8 meses. Num dos modelos em análise foi mesmo anunciado, de forma consistente, um prazo de um ano e meio. E é um SUV compacto.

Em 30 de dezembro, a World Shopper publicou um artigo sobre a importância de se proporem soluções alternativas de mobilidade ao Cliente, neste cenário de entregas muito prolongadas. Na altura sugeriu que poderia ser espontaneamente proposta uma solução de Rent-a-Car, em condições especiais, durante o período de espera pelo carro novo. Foi apresentado como exemplo, uma solução de uma gestora de frotas que, entretanto, tem vindo a refinar e a divulgar cada vez mais esta estratégia.

Nas 48 simulações de compra realizadas três meses depois da publicação do referido texto, a equipa da World Shopper deparou-se sem qualquer solução alternativa proposta espontaneamente, tanto no percurso digital do cliente como na interação direta com os comerciais abordados.

Após o cliente questionar se existiria uma solução de mobilidade para o período de espera pelo veículo novo, em apenas 2 processos de compra foi possível aceder a soluções alternativas (RAC). Em 12 casos, foram referidas soluções que passavam pela compra de um veículo de serviço, de outro modelo ou a possibilidade de algum Cliente desistir de uma encomenda. Em 34 (71%) casos não foi apresentada qualquer solução. O Cliente teria que aguardar e ponto.

Ainda há muita incerteza sobre quando estará resolvida a escassez de semicondutores, mas as opiniões coincidem cada vez mais em que o fenómeno se irá arrastar até meados de 2023.

Além disso é provável que as consequências da guerra na Ucrânia também impactem os prazos de entrega, para além da situação já identificada a nível do fornecimento de cablagens.

No domínio dos veículos elétricos, em clara fase de aumento de procura, também é previsível que se venham a registar algumas falhas no abastecimento de matérias-primas, como é o caso do lítio e do níquel utilizados na produção de baterias de tração.

Neste contexto, o setor automóvel tem que se adaptar, sobreviver e vencer num cenário de escassez. Fabricantes, fornecedores e redes de distribuição precisam de reagir: a redução de stocks até pode contribuir para a sustentabilidade financeira desta indústria de “push-stocks”, mas é crucial manter a dinâmica possível do mercado. Muito se tem feito ao nível da adaptação da estrutura produtiva a este cenário… é mais do que tempo de aplicar essa criatividade e energia no fim da linha, junto de quem mais importa: o Cliente.