ACAP apresentou dados anuais do setor automóvel

Com o tema “Conduzir à nova mobilidade”, o Fórum do Retalho Automóvel, promovido pela ACAP, apresentou no Centro Cultural de Belém, os dados sobre o estado atual do setor automóvel, com a sustentabilidade e os impactos ambientais do parque automóvel português em destaque
O evento ficou marcado pela apresentação de um estudo sobre tendências de consumo na aquisição de produtos e serviços automóveis, por Rita Alemão, co-fundadora e managing partner da LYD – Leading for Greatness. A apresentação arrancou logo com uma dinâmica com o público, em que foi colocada a seguinte questão: “Quando foi a última vez que comprou “realmente” um automóvel?”, a resposta mais expressiva foi de “há mais de 5 anos”, comparativamente às respostas isoladas de “1 ano”, “1 a 3 anos” e “3 a 5 anos”.
A partir daqui, passámos para o estudo realizado com a parceria entre a ACAP e o ISEG – Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa, sobre “Tendências do consumidor português na aquisição e utilização de produtos e serviços automóveis”, com uma análise mais detalhada sobre o perfil geracional do consumidor atual português.
Com uma amostra de 6 mil pessoas, sendo 57% parte da geração X (Millennial) com idades compreendidas entre os 25 e os 40, e 43% da geração Y com idades entre os 40 e os 60 anos, as preferências dos consumidores na compra de carros no futuro serão as seguintes:
– Média dos 55 anos: 60% planeia comprar um automóvel novo; 30% prefere comprar seminovo e 10% opta por uma viatura usada.
– Média dos 35 anos: 30% tenciona comprar um automóvel novo; 40% planeia comprar seminovo e 30% prefere comprar uma viatura usada.
Outra tendência que se verificou foi na preferência por adquirir viaturas elétricas e híbridas, quer sejam novas ou seminovas. Mas quando falamos de viaturas usadas, na média dos 55 anos, 20% respondeu que preferia comprar um veículo a gasolina, e na média dos 35 anos, 30% também escolheria comprar um veículo usado a gasolina.
“As principais tendências são a procura de viaturas elétricas, que estão em linha com aquilo que é a preocupação com o ambiente e a sustentabilidade. As gerações mais velhas têm mais apetência por viaturas híbridas e as gerações mais novas, se tivessem oportunidade financeira para o fazer, escolheriam apenas viaturas elétricas. Mas, não tendo, as possibilidades passam por viaturas semi-novas elétricas e híbridas. Nas viaturas usadas, continua a haver uma preferência pela combustão por ser mais barato”, afirmou Rita Alemão.
No painel mais focado na evolução do setor do aftermarket, “Impacto na rentabilidade”, André Figueiredo, da Automóveis Mondego, destacou que a nova mobilidade poderá ser considerada tanto como uma mais valia como um desafio para o negócio, uma vez que oferece novas oportunidades que devem ser exploradas e interpretadas como uma forma de se reinventar.
Tomás Rocha, da Auto-Industrial, acredita que “nos próximos 5 anos nada vai mudar no pós-venda dos concessionários”, mas que existem alguns desafios quando falamos em carros elétricos. “A manutenção de um carro elétrico tem menos 40% de necessidade de serviço”, algo que levanta alguma preocupação porque, tal como referiu, isso irá diminuir a necessidade de peças e lubrificantes. Deste modo, Tomás Rocha, acrescentou que “A partir de 2035, temos de encontrar formas de rentabilizar os espaços oficinais que temos”.
Sobre este tema, Nuno Lopes, diretor de pós-venda da Stellantis, afirmou que “Neste momento, com base na atividade do parque circulante total, a influência da eletrificação ainda é reduzida no negócio. Temos como prioridades nestes 5 anos, a validação de competências quer sejam humanas ou técnicas em termos de equipamento das redes de concessionários, para progressivamente nos adaptarmos à nova mobilidade elétrica”.
Veículos sustentáveis com mais matrículas
Tendo-se registado um aumento de matrículas em todas as categorias de veículos, 2023 permitiu verificar a preferência por veículos mais sustentáveis. Na categoria de ligeiros de passeiros – onde se registou um crescimento de veículos matriculados de 26,9 por cento face a 2022 –, os veículos de energias alternativas aos motores a combustão têm um peso de 51,9 por cento. Dentro destes, os elétricos representam um total de 18,2 por cento, seguindo-se os híbridos (14,5 por cento) e os híbridos plug-in (13,6 por cento). Os veículos a gasolina e a gasóleo representam 36 por cento e 12 por cento dos ligeiros de passeiros matriculados no ano passado, respetivamente.
Os dados atuais indicam também que Portugal teve um crescimento acima da União Europeia (14,6 por cento) nesta categoria de veículos, situando-se no “top 10”, com 18,2 por cento. Embora os números sejam promissores, os ligeiros de passeiros a energias alternativas continuam a representar apenas cinco por cento dos veículos do parque automóvel português. Os veículos a gasóleo continuam em maior percentagem (58,2 por cento), seguindo-se os carros a gasolina (36,6 por cento).
Parque automóvel continua a envelhecer em Portugal
Apesar do crescimento assinalado, a ACAP revela que os números ainda se situam abaixo dos registados em 2019. Na categoria de ligeiros de passageiros, sublinha-se um decréscimo de 11,2 por cento de veículos matriculados. Já os ligeiros de mercadorias cresceram 20,7 por cento no ano passado, valor ainda assim inferior quando comparado a 2019 – menos 26 por cento. Só os veículos pesados representam uma subida efetiva quando comparados a 2019, com mais 33,7 por cento de veículos matriculados. Relativamente aos “rent-a-car”, em 2023 verificou-se também um incremento, na ordem dos 50,7 por cento.
Contudo, e de acordo com os dados da Associação, Portugal continua com um parque automóvel envelhecido, em particular quando comparado com outros países da União Europeia. Dos 5,6 milhões de veículos que circulavam em 2021, 63 por cento tinha mais de 10 anos de idade. Já em 2022, 1,4 milhões de veículos em circulação apresentava mais de 20 anos de idade, sublinhando-se que em 2022 a idade média dos veículos entregues para abate era de 24,3 anos. Os ligeiros de mercadorias e os pesados de mercadorias são atualmente os veículos mais velhos do parque automóvel nacional, situando-se acima dos 15 anos. Seguem-se os pesados de passageiros (14 anos) e os ligeiros de passageiros (13,6 anos).
ACAP deixa recomendações
Com o intuito de procurar renovar o parque automóvel em Portugal, a ACAP propôs a reintrodução de mecanismos de incentivo ao abate de veículos em fim de vida, para acelerar a substituição dos veículos convencionais mais antigos e poluentes por veículos de baixas emissões, tal como aconteceu em Espanha, Itália ou França.
O Governo introduziu um artigo na Lei do Orçamento do Estado que prevê a implementação deste Programa, pelo que a ACAP exige a sua rápida aprovação. A Associação sublinha ainda a importância de retirar de circulação de veículos em fim de vida (VFV) com emissões médias de 170 g/km de CO2, substituindo-os por veículos com emissões médias de 95 g/km (incluindo elétricos, híbridos plug-in e veículos a gasolina e gasóleo).
Sublinhe-se que o incentivo ao abate vai resultar numa poupança energética de 3,2 milhões de litros de combustível/ano, o equivalente a 33.200 barris de petróleo. Em termos de emissões, irão registar-se menos 10.800 toneladas de CO2 ao ano.




















