“As pessoas têm que saber gerir melhor os seus negócios”, Manuel Félix, Euromais
Manuel Félix é muito direto a apontar as mazelas do setor do aftermarket nacional e sustenta que o principal problema que o setor enfrenta é precisamente a falta de capacidade dos gestores: “Se queremos conduzir um carro, temos de tirar a carta. Se queremos ir à pesca, temos de tirar uma licença.
Porque é que não há um curso para se ser empresário? Grande parte das pessoas nem sabe como é que se calcula uma margem! As pessoas têm que saber gerir melhor os seus negócios”, comenta.
Sobre a tendência notória dos fabricantes de automóveis em “dificultar a vida do aftermarket”, com o lançamento de peças certificadas e acesso limitado a dados, o gestor defende que “há alguma informação que deve estar condicionada a pessoas que efetivamente sejam capazes de a interpretar, executar e usá‑la no bom sentido. Há empresas em determinadas áreas que são melhores do que as concorrentes, por isso, cada um terá que olhar para o seu negócio e ver onde é que vai investir e depois tomar as decisões estratégicas. Não vejo que as limitações sejam um problema para todas as empresas, porque nem todos vamos viver disso, haverá empresas que se irão especializar nessas áreas e se calhar nós termos que subcontratar esses serviços”, afirma.
Vindo do negócio dos pneus, “onde sempre existiram fabricantes que vendiam aos distribuidores e às oficinas que eram clientes dos distribuidores, estamos habituados a conviver com a concorrência, porque os fabricantes de pneus têm o mérito de conseguir estar no mercado. Se os distribuidores de aftermarket conseguirem ter uma quota de 70%, é porque têm mérito. Acho que a livre concorrência é fundamental, as empresas têm de estar preparadas para isso”, frisou.
No que toca aos canais de distribuição tradicionais, Manuel Félix tem vindo a mudar de ideias. Se inicialmente considerava “os retalhistas como os entalados do processo”, hoje pensa que estes “não vão desaparecer, porque há um serviço de proximidade que prestam que um distribuidor dificilmente consegue prestar”. Na sua opinião, o retalho em si irá ter dificuldades, ainda que vá continuar a existir, “porque há uma tendência nas vendas ao particular, aos «biscateiros» e ao curioso que se substituem à oficina. Já sobre a concentração no mercado, entende que “não é algo de errado, mas está a ser feita com um objetivo que não vai ser conseguido: juntar para ter mais volume e comprar melhor ao fabricante. Só que os fabricantes têm um limite!”. E o mercado português dificilmente passará por uma situação desse género até pela própria característica das empresas, “porque a maior parte delas são familiares e há uma relação de poder que as pessoas não querem alterar. Em Portugal, dificilmente essa consolidação acontecerá, porque a natureza das empresas não tem nada a ver com aquilo que se vê. E a dimensão do mercado, também ajuda nisso”, conclui.