“Automóveis descartáveis” – um risco real?

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Há muito que os veículos são considerados uma boa prática em termos de possibilidade de reparação. No entanto, com a evolução da tecnologia e dos mercados, esta possibilidade de reparação está em declínio. Os relatos de modelos não desmontáveis, a indisponibilidade de peças sobresselentes ou de serviços de reparação, bem como os desafios à possibilidade de reparação decorrentes do aumento dos componentes eletrónicos nos veículos mostram que a obsolescência precoce está a aumentar nos veículos mais recentes

O risco de um aumento dos “automóveis descartáveis” é real. As novas vias adotadas por alguns fabricantes, que dão prioridade a custos de produção mais baixos em detrimento da possibilidade de reparação dos veículos, não devem tornar-se a norma. A presença crescente de eletrónica e software a bordo, que faz com que os veículos conectados se assemelhem a “smartphones sobre rodas”, aumenta o risco de obsolescência do software e torna mais complexas as reparações fora das redes aprovadas pelos fabricantes.

Por outro lado, custos de reparação eventualmente exorbitantes e serviços pós-venda com pouca ou nenhuma disponibilidade, afetam os consumidores, que não têm noção do custo total da propriedade de um veículo no momento da compra. As oficinas de reparação e o mercado de veículos em segunda mão, também podem ser afetados, pois haverá cada vez mais veículos a serem excluídos do parque circulante, quer pela falta de peças, quer pelos custos exagerados da sua reparação.

Dada a forte dependência dos veículos, bem como o seu elevado custo, a longevidade dos automóveis é uma questão social importante. Os veículos não reparáveis põem em causa o direito dos consumidores à reparação, aumentam os custos de reparação e obrigam os automobilistas a substituir prematuramente os seus veículo. As reparações dispendiosas exercem pressão financeira sobre as seguradoras, o que, por sua vez, pode levar a aumentos dos prémios para os consumidores, a fim de manter a cobertura e a qualidade do serviço.

O prolongamento do tempo de vida dos veículos através da reparação e reutilização é fundamental para reduzir a utilização de recursos e apoiar a independência da União Europeia em relação às importações de matérias-primas essenciais. Devido à sua dimensão e propriedade generalizada, os veículos constituem um grande consumidor de matérias-primas primárias, incluindo matérias-primas críticas. Isto torna-se ainda mais importante no contexto da eletrificação em curso da mobilidade, uma vez que a produção de baterias para veículos eléctricos exige maiores quantidades de materiais críticos.

O que é preciso fazer agora é lançar as bases das boas práticas da economia circular do parque automóvel elétrico, que vai substituir os motores de combustão, para combinar menos emissões de CO2, respeito pelos consumidores e produção responsável. É importante que o futuro regulamento assegure a disponibilidade de peças sobresselentes a preços não discriminatórios, a partir da data de colocação no mercado e durante 20 anos após a data de fim da colocação no mercado, assim como actualizações de software relevantes a preços justos e não discriminatórios. Em particular, tendo em conta a sua importância em termos de custos, utilização de materiais e funcionalidade dos veículos, o regulamento deve também assegurar a possibilidade de reparação das baterias dos veículos eléctricos.