Carregar VE fica mais caro que o uso de gasóleo

A UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos, divulgou dados – em que efetua a comparação dos custos para percorrer 100 km – que concluem, durante o ano de 2024, em média, utilizar a rede pública de carregamento de veículos elétricos ficou 3% mais caro que o uso do gasóleo e 73% mais caro do que quando comparado com o carregamento em casa
A UVE apresentou um novo Manifesto sobre o Estado da Rede de Carregamento de VE, onde descreve o clima de incerteza, criado pela tutela, em torno das decisões que influenciam a Mobilidade Elétrica em Portugal. Num setor de forte investimento a incerteza é o pior inimigo. A falta de decisão não promove a estabilidade, mas sim cancela os investimentos e desenvolvimentos e promove a estagnação de decisões importantes.
Portugal bate recordes de vendas e quota de mercado nos veículos elétricos, mês após mês, em claro contraciclo com a média europeia. Somos apontados como um caso de estudo a nível mundial – países como a Alemanha lançam concursos públicos que seguem o padrão do modelo português, e um acórdão do tribunal europeu indica a necessidade de um caminho de separação entre o serviço e a eletricidade vendida num ponto de carregamento, tal como acontece no modelo português.
Os operadores com grandes hubs de carregamento, um pouco por toda a Europa, lutam por uma solução que permita a viabilidade dos seus investimentos. Os utilizadores europeus reclamam por uma verdadeira rede interoperável que promova um custo acessível e contra uma coleção de subscrições paralelas de redes de operadores.
Ainda assim, em Portugal decidimos não olhar para o nosso sucesso e colocamos tudo em causa, lançando-nos para um ponto de onde vários países europeus tentam sair, em vez de acelerar a melhoria do modelo, resolvendo os problemas existentes. O nosso modelo de Mobilidade Elétrica assenta num grande número de detalhes que o tornam, é verdade, único. Alguns desses detalhes podem e devem ser melhorados, mas conseguimos algo de que nos devemos orgulhar e não “inviabilizar” porque somos únicos. A rede de carregamento pública necessita de crescer constantemente, de forma a acomodar os mais de 8.000 veículos elétricos (100% elétricos e híbridos plug-in) registados em Portugal mensalmente.
Preços praticados e complexidade dos tarifários
Muito se tem falado acerca do modelo de gestão da rede de carregamento de veículos elétricos em Portugal, sendo, por norma, atribuída a responsabilidade do que está menos bem à EGME (Entidade Gestora da Mobilidade Elétrica, atualmente a empresa pública Mobi.E). As principais críticas consistem, essencialmente, em dois pontos: os preços praticados e a complexidade dos tarifários que obrigam ao uso de uma calculadora para saber quanto se vai pagar (quando não se opta por tarifas planas com tudo incluído).
Quanto ao primeiro ponto, analisando os dados publicados mensalmente pela UVE – em que se efetua a comparação dos custos para percorrer 100 km – verificou-se que, durante o ano de 2024, em média, utilizar a rede pública de carregamento de veículos elétricos ficou 3% mais caro que o uso do gasóleo e 73% mais caro do que quando comparado com o carregamento em casa.
A Mobilidade Elétrica não pode ser exclusiva daqueles que têm onde carregar fora da rede pública e a aceleração da transição energética ao nível da mobilidade tem de ser acessível a todos. É urgente encontrar soluções para a escalada de preços que vimos acontecer em 2024, com os novos postos de carregamento a entrarem em operação com tarifas sucessivamente mais caras.
Em 2024 assistimos a um aumento de 5% em média, nos custos de carregamento na rede pública, com os novos postos que entraram em funcionamento em dezembro de 2024 a apresentarem valores, em média, 28% superiores aos existentes em janeiro de 2024.
Dos CEME não seria expectável a existência de mais tarifários única e exclusivamente em kWh com o valor final a pagar pelo utilizador sem asteriscos? A apresentação de um valor que depois acresce da taxa EGME, IEC, TAR e IVA é incompreensível por parte do utilizador inexperiente. Uma tarifa simplificada deve coexistir lado a lado com tarifários mais complexos.
Ainda sobre as várias taxas: o Imposto Especial de Consumo de Eletricidade (IEC) é uma constante; a tarifa EGME é uma tarifa que os CEME e OPC têm de pagar ao sistema e não deveria ser vertido para o consumidor (ou sendo-o, deveria estar incluído no valor do kWh); no caso da Tarifa de Acesso às Rede (TAR), sendo que esta irá depender do tipo de ligação do posto (MT, BTE ou BTN) – informação que não é publica nos postos de carregamento – não faz sentido ser variável para o utilizador quando pretende calcular o valor do carregamento; o Imposto de Valor Acrescentado (IVA) é uma variável que em Portugal depende apenas da geografia, havendo atualmente três taxas de IVA distintos: Açores, Madeira e Portugal Continental.
O carregamento de um veículo elétrico obriga à criação de regras especificas para a venda dessa eletricidade, tem de estar profundamente integrado no setor elétrico, sob pena de criarmos mais problemas do que soluções ao tentar negar esta realidade.




