DPAI/ACAP apresenta estudo sobre o Aftermarket

01 - DPAIACAP apresenta estudo sobre o Aftermarket

A DPAI/ACAP apresentou um estudo pioneiro sobre o presente e o futuro do Aftermarket em Portugal. Faz uma análise realista do setor do pós-venda independente na atualidade e identifica os desafios e medidas tendentes a uma maior competitividade das empresas, num mercado em constante transformação

Os resultados do estudo, desenvolvido por uma equipa de investigadores do ISEG – Executive Education, e promovido pela DPAI/ACAP, foram apresentados pelo Professor Zorro Mendes, Presidente do Departamento de Economia do ISEG, pela Dra. Rita Alemão, Professora convidada do ISEG e por Francisco Nunes, Professor Auxiliar do ISEG.

Os temas em destaque foram a Caracterização do Sector do Aftermarket Automóvel em Portugal e do perfil do consumidor; Evolução futura da procura dirigida ao pós-venda, em função das inovações tecnológicas no sector automóvel e das alterações nas preferências dos clientes; e as Consequências da evolução futura da procura, nas estratégias futuras do canal independente do Aftermarket Automóvel.

Objetivos do Estudo
Os objetivos do Estudo foi caracterizar a situação atual do canal independente do aftermarket automóvel em Portugal e a procura a ele dirigida; perspetivar a evolução futura da procura dirigida ao canal independente do aftermarket em função das inovações tecnológicas no setor automóvel e das alterações nas preferências dos clientes; e ainda avaliar as consequências destas mudanças nas estratégias futuras do canal independente do aftermarket automóvel. A estrutura do Estudo teve por base as principais empresas do canal independente e os aspetos relevantes da sua exploração, designadamente a segmentação entre peças novas e peças usadas, assim como os diversos canais de contacto com os clientes. O Estudo teve em conta a caracterização da procura dirigida ao canal independente e a valorização do serviço pelo consumidor, assim como o impacto da eletrificação  no aftermarket. Foi também considerada a regulamentação europeia com impacto no pós-venda, nomeadamente o acesso aos dados dos veículos, a cibersegurança, a cláusula de reparação, a codificação das peças de reposição e o MVBER.

Centros Auto e Reparadores Independentes
O inquérito sobre o estado atual do setor dos serviços do aftermarket automóvel foi dirigido às empresas que representam os Centros Auto / Fast Fit (cerca de ¼ da amostra) e os Reparadores Independentes Multimarcas (cerca de ¾ da amostra). Para este conjunto de oficinas, as peças novas OE representam 25%, enquanto as peças novas IAM 70% e as peças usadas 6%. Em termos de expetativas, cerca de 50% das empresas acham que a quota de mercado do aftermarket independente IAM face à do OE vai aumentar nos próximos anos. E 80% das empresas consideram que o uso de peças novas IAM deverá aumentar ou manter-se no futuro perfil de exploração. Em relação às peças usadas, é apenas nos reparadores independentes que a expetativa de aumento é maioritária (54% destas empresas esperam um aumento das compras/vendas de peças usadas). Com credibilização e garantias, esta perceção poderá indiciar uma maior atenção do setor ao uso de peças usadas nas suas atividades. Cerca de ¼ da faturação em peças novas IAM é empregue em veículos novos, com idade até 3 anos, que procuram os serviços do canal independente do aftermarket. De um modo mais desagregado, relativamente às peças novas IAM, é notório o otimismo numa evolução mais intensa da sua utilização nos centros-auto/fast fit (75%), o que poderá ser um indicador do reforço estratégico na fileira peças-serviços deste segmento do aftermarket independente. Nos reparadores independentes também se coloca a primazia na evolução das peças novas IAM, embora de forma muito mais moderada.

Mercado paralelo é uma preocupação
Existe uma preocupação de que o peso da economia paralela no negócio da manutenção e reparação seja igual ou superior a 30% da atividade real do setor, opinião revelada por 56% das empresas. Os reparadores independentes têm mais vincada esta perceção do que os centros-auto/fast fit. Em relação aos canais de contacto com o cliente, perceciona-se um ambiente generalizado de digitalização do mercado, na natureza logística das operações de encomenda de peças: 2/3 dos pedidos de peças no canal independente são já realizadas via online. Os grossistas de peças lideram logisticamente no canal online, seguidos dos reparadores independentes.

Confiança na oficina
Os clientes mantêm o seu apreço pelas características que tradicionalmente valorizam no aftermarket, designadamente o bom compromisso qualidade/preço do serviço e da confiança na oficina, mas tendem a valorizar cada vez mais o tempo gasto na reparação/manutenção, a proximidade geográfica da oficina e a manutenção da mobilidade enquanto estão privados do automóvel.

Quanto ao uso de peças usadas, a recomendação para as empresas do canal independente do aftermarket é a alteração da atual situação de um peso residual destas no negócio do aftermarket, desenvolvendo uma aposta na oferta de peças usadas, dada a elevada disposição do grosso dos clientes que constituem o seu mercado futuro (os clientes com menos de 30 anos hoje e que, na sua grande maioria, possuem marcas generalistas) para adquirir este tipo de peças. A sustentabilidade ambiental para a qual o setor do aftermarket deve contribuir de uma forma cada vez mais acrescida, é outra razão que também justifica a maior atenção a dar às peças usadas. Em relação à aquisição de peças online parece haver alguma desconfiança por parte dos clientes, a qual perdurará para o futuro, uma vez que é extensiva a todas as idades e a todos os tipos de automóveis. Desconfiança essa que não é tão elevada para os detentores de automóveis de marca premium, onde quase um terço admite a aquisição de peças online.

 Diminuição das operações
Vai acontecer a diminuição do número total de operações do aftermarket, decorrente da eletrificação dos veículos, a qual ocorre fundamentalmente à custa das reparações (onde se regista uma diminuição de 12%, no cenário mediano), as quais são menos necessárias nos veículos elétricos (os componentes de um VE são menos e necessitam de menos reparações do que os componentes de um veículo a combustão). A diminuição do número de operações e do número de horas de mão-de-obra do aftermarket, como consequência do avanço da eletrificação dos automóveis, reflete-se no volume de negócios, o qual diminui tanto mais quanto mais rápida for a penetração dos VE, sendo que, no cenário mediano, a diminuição é de cerca de 6%. Esta tendência de evolução é confirmada por um estudo da Delloite, segundo o qual as receitas dos “serviços pós-venda” tenderão a diminuir 39%, entre 2018 e 2035, para um grupo de 5 países europeus (Alemanha, França, Reino Unido, Espanha e Itália). Estas previsões são efetuadas aos preços atuais, pelo que a previsível diminuição dos volume de negócios poderá ser atenuada por um aumento dos preços.

As grandes linhas de força para o futuro do canal independente do aftermarket

1 – Conjugar os serviços de manutenção/reparação aos veículos de combustão com a entrada gradual dos serviços de manutenção/reparação aos VE
2 – Investir na formação dos colaboradores, capacitando-os para a manutenção/reparação dos VE
3 – Garantir a mobilidade dos clientes durante o tempo da manutenção/reparação dos seus veículos
4 – Aproveitar a eletrificação dos veículos para aumentar a contribuição do setor para a sustentabilidade ambiental
5 – Pressionar as autoridades competentes no sentido da criação de legislação que permita a existência de uma concorrência justa e aberta entre todos os palyers do aftermarket