EPI para manipulação de veículos elétricos
A crescente difusão de Veículos Elétricos no mercado exige uma importante atualização de conhecimentos por parte das oficinas. Torna-se por isso urgente dar formação aos profissionais que têm de manipular veículos elétricos e híbridos, para que o saibam fazer de forma segura, além de que todas as pessoas que manipulam este tipo de veículos devem utilizar os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) adequados e necessários
Os veículos elétricos ou híbridos possuem características que variam relativamente aos veículos de combustão interna convencionais, dado que, entre outros componentes, incluem um motor elétrico e uma bateria de alta tensão, o que implica novos riscos (riscos elétricos, químicos e de incêndio ou explosão). Assim, diferentes grupos, entre os quais se incluem os bombeiros, serviços de emergência, operadores de gruas e técnicos de oficina, bem como os proprietários destes veículos, devem estar preparados, em diferentes níveis, para responder a um acidente ou reparação de um veículo elétrico ou híbrido.
Para poder prevenir os riscos indicados na manipulação de veículos elétricos e híbridos, em primeiro lugar é preciso conhecer o funcionamento do sistema de alta tensão que os alimenta. Dependendo da operação a realizar no veículo elétrico e híbrido, se existir um risco derivado da referida manipulação, será necessário desligar com segurança o sistema de alta tensão. Por outro lado, com o objetivo de minimizar o risco de contacto com alta tensão, existem ferramentas específicas para quando se manipula um veículo elétrico ou híbrido de ligação à rede elétrica. As oficinas devem dispor, obrigatoriamente, de um conjunto de ferramentas manuais isoladas (devem estar homologadas segundo a norma IEC 60900 e conter a respetiva marcação), multímetros com uma classificação mínima de CAT III (indica o grau de proteção do dispositivo contra sobretensões e sobreintensidades), cartazes indicadores e sinalização perimetral do veículo, para delimitar a zona de trabalho, e uma câmara termográfica ou um termómetro laser, para verificar a temperatura à distância. Além disso, é recomendável dispor de uma zona de quarentena, na qual o veículo acidentado deve permanecer sob controlo e supervisão.
Para a manipulação segura do veículo elétrico e híbrido existem Equipamentos de Proteção Individual (EPI) obrigatórios, bem como outros que são recomendados. A Lei de Prevenção de Riscos Profissionais define EPI ou Equipamento de Proteção Individual como qualquer equipamento destinado a ser transportado ou usado pelo trabalhador, para que o proteja de um ou de vários riscos que possam ameaçar a sua segurança ou saúde, assim como qualquer complemento ou acessório destinado a esse fim.
Os EPI constituem a última barreira de defesa do trabalhador relativamente ao risco profissional, daí a sua enorme importância no âmbito da Segurança, Saúde e Bem-estar no trabalho. Deve ter-se em conta que os EPI não implicam uma redução do risco, mas sim uma redução das consequências derivadas de que esse risco possa resultar num acidente profissional. São utilizados quando não foi possível eliminar os riscos através de meios técnicos de proteção coletiva ou organizativa. Deve ter-se em conta que os EPI não são utilizados com o objetivo de realizar uma tarefa ou atividade, mas sim para nos proteger dos riscos envolvidos nessa tarefa ou atividade. Por este motivo, as ferramentas ou utensílios, embora concebidos para proteger contra um determinado risco (ferramentas isolantes ou isoladas, etc.), não serão considerados EPI. O EPI deve ser transportado ou usado pelo trabalhador e deve ser utilizado de acordo com as instruções dadas pelo seu fabricante. Tendo sido explicado em que consiste o Equipamento de Proteção Individual, indicamos de seguida os EPI necessários para manipular um Veículo Elétrico ou Híbrido de uma forma segura.
Qualquer trabalhador que tenha de manipular ou reparar um Veículo Elétrico ou Híbrido acidentado deve utilizar obrigatoriamente os seguintes EPI:
Luvas de proteção dielétricas
Estas luvas (categoria “00” 750 V DC, que consigam isolar até 750 V em corrente contínua) protegem da passagem de corrente elétrica através do corpo humano (choque elétrico), produzida pelo contacto físico com um elemento condutor, a diferente tensão. (Não protegem de correntes elétricas induzidas no corpo humano por campos eletromagnéticos fortes ou de qualquer outro risco derivado da energia elétrica). Antes de utilizar as luvas, o operário deve certificar-se visualmente que não apresentam orifícios nem cortes e proceder a um teste de estanquidade (manualmente ou com um dispositivo de teste). Uma verificação básica do estado das luvas consiste em fechar a extremidade por onde se introduz a mão e apertar a luva para ver se apresenta perdas ou fugas de ar. Se as luvas estiverem deterioradas, não devem ser utilizadas, uma vez que não cumpririam a sua função, não iriam proteger, e a corrente elétrica poderia passar através delas. Recomenda-se a utilização das luvas dielétricas por baixo de luvas de proteção convencionais, para evitar perfurações e rasgões. Alguns grupos, como os bombeiros, utilizam as luvas dielétricas por cima de luvas ignífugas, para evitar os efeitos térmicos de origem elétrica. As luvas dielétricas devem cumprir a norma UNE-EN 60903:2005, que especifica os requisitos para o fabrico, verificação e utilização correta das luvas e proteções das mãos isolantes da eletricidade, com e sem proteção mecânica.
Óculos de proteção
É obrigatório o uso de óculos contra impactos. Os óculos de proteção ocular devem reduzir o campo visual do trabalhador o mínimo possível e ser de uso individual. Recomenda-se o uso de viseiras, no caso de realizar trabalhos em tensão que possam resultar em faíscas ou curto-circuitos, evitando assim queimaduras por arco elétrico na face. As viseiras faciais, certificadas de acordo com a UNE-EN 166-2002 (proteção individual dos olhos), são as únicas proteções oculares válidas para esta zona do corpo. Além disso, abrangem a exigência de proteção contra arco elétrico de curto-circuito. Os principais riscos oculares gerados quando se produz arco elétrico são os impactos de partículas projetadas, a radiação UV e a radiação térmica. A norma UNE-EN 170 especifica as classes de proteção e as especificações relativas ao coeficiente de transmissão dos filtros para a proteção contra a radiação ultravioleta. As restantes especificações aplicáveis a este tipo de filtros e às armações a que se destinam são apresentadas na norma UNE-EN 166.
Calçado dielétrico
O calçado com proteção dielétrica é outro EPI obrigatório quando se manipulam veículos elétricos, para evitar situações nas quais a corrente elétrica passe para a terra através do corpo do operário. O tipo de calçado é concebido com borracha ou materiais poliméricos semelhantes aos utilizados nas luvas dielétricas. Se o calçado tiver biqueira de proteção, esta nunca deverá ser metálica. Antes de utilizar o calçado dielétrico deverá ser verificado, visualmente, se existe na sola alguma peça metálica inserida, dado que esta faria de condutor de eletricidade, limitando ou até mesmo anulando a capacidade dielétrica do calçado em questão. Como EPI opcional temos a manta isolante para proteção contra partes ativas com tensão. Com essa manta tapam-se conectores, terminais de bateria, etc., e todas as partes ativas com tensão, para evitar o contacto destas com a carroçaria e, por sua vez, para evitar o contacto acidental por parte do pessoal. Outro EPI obrigatório para os bombeiros é o ERA (Equipamento de Respiração Autónoma), que é utilizado para evitar a inalação de gases produzidos por um derrame do eletrólito da bateria de tração.
Vara de salvamento
A vara de salvamento ou arnês de segurança é utilizada para o resgate elétrico. A vara permita afastar uma pessoa caso seja eletrocutada enquanto manipula o sistema de alta tensão do veículo. A utilização da vara de extração evita que a pessoa que vai em seu auxílio também seja eletrocutada ao tentar socorrer o acidentado. Vale a pena relembrar que, como é lógico, é imprescindível retirar todos os objetos pessoais de metal que sejam usados (entre os quais se encontram joias e relógios), antes de começar a manipular um veículo elétrico ou híbrido. Por outro lado, as pessoas com pacemaker, desfibrilhadores e outros dispositivos médicos semelhantes não podem realizar trabalhos em veículos elétricos ou híbridos, dado que o campo magnético que emanam pode afetar o funcionamento destes aparelhos.
Poderá também aceder ao presente artigo na edição impressa ou online do Jornal das Oficinas nº221, aqui.