Futuro da indústria automóvel europeia em jogo
A indústria automóvel europeia enfrenta uma das piores crises da sua história, pressionada por vendas fracas, custos elevados de energia, concorrência global e falta de infraestruturas de carregamento
“Existe o risco de o futuro mapa da indústria automóvel mundial ser desenhado sem a Europa”, alertou em abril Stéphane Séjourné, responsável pela indústria na UE. O aviso reflete a preocupação crescente com o setor, que na sexta-feira terá novo encontro de crise com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em Bruxelas.
Esta será a terceira e última reunião do Diálogo Estratégico sobre o Futuro da Indústria Automóvel, num momento em que os fabricantes pedem medidas concretas. “Precisamos de mais ação”, reforçou Sigrid de Vries, diretora-geral da Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis (ACEA), sublinhando que os construtores querem custos energéticos mais baixos, mais subsídios à compra e uma rede de carregamento mais equilibrada na Europa.
Atualmente, a quota de mercado dos veículos elétricos na UE estagna nos 15% e existem apenas 880 mil pontos de carregamento públicos, quando seriam necessários 8,8 milhões até 2030. “Cumprir os objetivos rígidos de CO2 para 2030 e 2035 já não é viável no mundo de hoje”, referiram os presidentes da ACEA e da CLEPA, pedindo maior flexibilidade na transição tecnológica.
A crise é agravada pela concorrência chinesa, que domina a produção mundial de baterias e veículos elétricos. Em 2023, a China vendeu 32 milhões de automóveis, metade elétricos, contra apenas 11 milhões na UE. O contraste levanta receios de perda de competitividade e de milhares de empregos numa indústria que sustenta mais de 13 milhões de trabalhadores europeus.
Para alguns especialistas, como o economista Ferdinand Dudenhöffer, a cooperação com a China é inevitável. “Precisamos de laços mais estreitos com a China, não de nos distanciarmos. Seria estúpido não cooperar com os chineses, uma vez que eles têm todas as cartas na mão”, defendeu. “Para isso, precisamos de apoio político. O que não precisamos é de ataques à China”, acrescentou.
O futuro do setor automóvel europeu, considerado a espinha dorsal da economia do continente, continua assim em aberto — entre o “risco de travagem a fundo” e a esperança de uma nova dinâmica política e industrial.