Mais de 100 marcas de carros chineses podem desaparecer
O maior mercado de veículos elétricos do mundo atravessa um processo de correção profundo que pode varrer do mapa centenas de fabricantes. A previsão mais contundente veio da presidente da BYD, Stella Li, que, durante o Salão de Munique, alertou que mais de 100 das 130 marcas chinesas em operação podem desaparecer nos próximos cinco anos
Segundo a executiva, a combinação de guerra de preços, excesso de capacidade produtiva e restrições regulatórias impostas por Pequim criou uma pressão insustentável para empresas de menor porte. O diagnóstico coincide com análises de consultorias internacionais, que estimam que apenas 15 a 20 grupos robustos conseguirão sobreviver até 2030, concentrando três quartos do mercado doméstico.
A raiz da crise
Nos últimos anos, os fabricantes chineses recorreram a descontos agressivos e financiamentos sem custo para atrair consumidores. O movimento resultou em queda nas margens de lucro e no aumento da concorrência desleal. Diante da ameaça de deflação e da deterioração da rentabilidade industrial, o governo chinês começou a restringir essas práticas, deixando os fabricantes mais frágeis à beira da falência.
Outro fator é o excesso de capacidade produtiva. As fábricas do país conseguem produzir muito mais do que o mercado absorve, levando a taxas de utilização cada vez mais baixas e a uma pressão adicional sobre custos.
Impactos globais
A possível “limpeza” no setor chinês terá efeitos além das fronteiras do país. Para compensar a perda de participação doméstica, as marcas chinesas devem intensificar a expansão internacional. No entanto, enfrentarão barreiras tarifárias, exigências técnicas e dificuldades logísticas em regiões como Europa e América.
Consumidores europeus podem se beneficiar de acesso a veículos mais baratos e avançados, mas medidas protecionistas podem encarecer ou limitar essa oferta.
O desaparecimento de fornecedores na China ameaça o fornecimento global de baterias e componentes eletrónicos, segundo a Reuters, afetando custos e prazos de entrega para fabricantes em todo o mundo.
Apesar das previsões de falências em massa, analistas destacam que o processo não será uniforme. Governos locais podem tentar salvar fabricantes estratégicos para preservar empregos e manter o tecido industrial. Além disso, fusões, concentrações regionais e a busca por nichos de mercado podem dar sobrevida a algumas empresas.
Novo mapa competitivo
Para gigantes como a BYD, a consolidação pode significar menos concorrência e maior estabilidade de preços. Mas nem mesmo os líderes estão imunes: a própria empresa já reportou pressões sobre margens devido às mudanças regulatórias e ao fim de subsídios.
O setor de veículos elétricos na China está, assim, às vésperas de uma transformação radical. O futuro aponta para um mercado mais concentrado, dominado por poucos grupos capazes de escalar produção e fortalecer suas redes internacionais.