Mesa Redonda JO: Equipados para o futuro!

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Falar sobre a sustentabilidade dos negócios é abordar tanto os desafios quanto as oportunidades que se avizinham. Para uma análise aprofundada do mercado de equipamentos oficinais, o Jornal das Oficinas decidiu retomar a Mesa Redonda, reunindo oito dos principais players do setor

Com a digitalização, os métodos tradicionais perdem espaço; com a nova mobilidade, certos serviços tornam-se obsoletos, abrindo caminho para outros; os veículos tornaram-se mais inteligentes, exigindo equipamentos mais avançados e eficazes, e a mão-de-obra quer-se mais especializada. Até agora, a única certeza é de que tudo muda e assim continuará a ser. Para compreender melhor estes temas, o Jornal das Oficinas reuniu oito das principais empresas do setor de equipamentos oficinais para uma Mesa Redonda. O evento aconteceu no Sweet Atlantic Hotel & SPA, na Figueira da Foz, no passado mês de junho

Raio-X ao mercado nacional
O debate começou com a análise de Mauro Antunes, da Hélder Máquinas, que reconhece ter havido uma retoma após a Covid-19. “O ano passado foi o nosso melhor ano ao nível de volume de vendas, mas este ano tenho sentido alguma estagnação. Em conversa com alguns colegas, denoto que há alguma desorganização no mercado. Há uma série de players que não têm especialidade nem nas equipas, nem nos equipamentos, e, por isso, conseguem praticar preços mais baixos”, adiantou.

Tiago Figueiredo, da Luz de Airbag, partilha da mesma opinião. “Estamos a viver uma fase de retoma, disso não há sombra de dúvidas. O mercado tem vindo a sofrer muitas alterações com a entrada das novas tecnologias, como os sistemas ADAS e as viaturas elétricas. Nota-se que as oficinas estão a investir, cada vez mais, em equipamentos mais avançados”, afirmou. No entanto, salienta que há ainda um longo caminho a percorrer na sua especialização. “Na minha opinião, é essencial investir em formação. Nesse aspeto, a mudança está a ocorrer de forma ainda muito lenta. É importante acompanhar a evolução do parque automóvel e, nesse contexto, cabe-nos a nós o papel de “evangelizar” o mercado”, sublinhou.

Paulo Gaspar, da Proxira, segue o mesmo raciocínio. “É incontornável que, cada vez mais, são necessárias outras valências que antigamente não eram precisas. Ter apenas um elevador e um carro de ferramentas já não serve para nada hoje em dia. E nós temos também de fazer a nossa parte, educando o cliente em relação à questão da mão de obra”, esclareceu. E dá um exemplo: “Muitas vezes, quando alguém quer abrir uma oficina nova, a primeira coisa que eu pergunto é quanto é que irá cobrar de mão-de-obra, porque é a partir daí que vamos começar a desenhar o que é que o cliente precisa ou não para ter sucesso no negócio”.

Ao contrário das observações anteriores, Edmundo Costa, da Cetrus, revelou não sentir a volatilidade do mercado de forma tão imediata. “Trabalhamos frequentemente em projetos com empresas, inclusive concessionários, que planeiam fazer investimentos. Começamos a acompanhar o processo desde uma fase ainda muito embrionária. Portanto, acabamos por estar hoje a fechar negócios que começaram a ser planeados há seis meses, um ano ou, às vezes, mais”, confidenciou.

António Garrido, da Lusilectra, embora reconheça que o “mercado tenha vindo a evoluir e a crescer em termos de atividade”, também destaca o reverso da moeda. “Sentimos algum abrandamento desde o último trimestre do ano passado. Nota-se alguma dificuldade e contenção em fazer negócios, impulsionada por fatores externos como o nível de inflação e os custos de transporte”, explicou.

Pedro Jesus, da Cometil, expressou uma opinião mais otimista sobre o mercado. “Estamos a atravessar um período em que as oficinas estão sobrecarregadas com trabalho, mais do que aquilo que conseguem gerir. E isso é algo positivo para a nossa atividade, pois podemos ajudá-los nessa área e desempenhar um papel diferenciador”, contou. E vai mais longe: “Acredito que o futuro ainda nos irá reservar muitas oportunidades, de forma geral, para todas as empresas, pois os automóveis representam uma grande fonte de oportunidades para as oficinas. À medida que a tecnologia automóvel for avançando, nós vamos estar cá para ajudar a resolver os problemas”.

Concorrência Desleal

Ainda sobre a análise ao mercado nacional, Manuel Guedes Martins, da MGM, contribuiu para o debate com um tema que tem sido cada vez mais recorrente. “Tenho-me deparado com uma situação que está a começar a crescer no grande Porto. Em 100 oficinas, 30 ou 40 trabalham à noite de porta fechada. Isto é concorrência desleal, porque nós passamos por muito para conseguirmos honrar os nossos compromissos. Eu sei que os empregados têm que levar a vida, mas é uma situação bastante complicada”, admitiu.

Rui Figueira, da Bahco, também ofereceu uma reflexão sobre a possível origem desta nova problemática. “Desde a Covid-19, que o mercado tem sido confrontado com várias surpresas, nomeadamente a inflação, passando pela crise no canal Suez, até às guerras, há sempre algo a tentar-nos derrubar. Por isso, espero que nada mais surja, mas se surgir, estaremos cá como sempre para resolver”, assegurou.

Quanto às oficinas, Rui Figueira refere que estão cada vez mais profissionalizadas, mas que também tem surgido uma tendência crescente de “trabalhar no negro”. “Normalmente, aqueles que trabalham fora do horário regular também querem minimizar os custos ao máximo. E, nesse sentido, nós não conseguimos competir. Por isso, espero que a situação melhore para que possamos continuar a crescer todos”, referiu.

Saiba mais sobre esta Mesa Redonda na edição impressa do Jornal das Oficinas de junho/julho e aceda à nossa galeria de fotos aqui.