Motores de combustão sobrevivem
Afinal os motores de combustão não vão acabar tão depressa quanto se esperava. O acordo alcançado entre a Alemanha e a Comissão Europeia levanta a proibição de comercialização de veículos de combustão (gasolina, gasóleo, híbridos e gás) a partir de 2035, como parte do pacote climático do Parlamento para reduzir as emissões poluentes em 55% em relação a 1990
Embora o Parlamento Europeu não tivesse falado de tecnologias, atualmente os objetivos de emissões só são alcançados através da eletrificação, e o Executivo não estava disposto a tocar no texto legal. Mas a possibilidade de produzir combustíveis sintéticos livres de emissões poluentes veio alterar a situação, e a Comissão Europeia concordou com a construção de motores de combustão interna com emissões zero.
Há anos que os especialistas o dizem em muitas conferências e fóruns. Não se trata de promover algumas tecnologias sobre outras, mas de promover emissões zero. Hoje não há tecnologia vencedora e as soluções que marcarão o futuro do setor dependerão das necessidades do cliente, que é soberano em decidir que carro conduzir de acordo com as suas necessidades.
Os motores a combustão poderão, portanto, continuar a ser vendidos, desde que permitam a emissão zero de CO2. Para alcançar este objetivo terão de utilizar o combustível sintético (também chamado e-fuel ou eco-combustível), o qual é produzido através da combinação do CO2 capturado da atmosfera (ou biomassa) com H2 (hidrogénio), obtido através de um processo industrial livre de emissões que, através da eletrólise da água (utilizando eletricidade renovável), produz hidrogénio verde que será depois armazenado, distribuído e entregue para consumo.
Os combustíveis sintéticos vêm assim dar um novo fôlego aos motores de combustão. Uma proposta legislativa específica para estes combustíveis será apresentada em 2026. A ideia da UE é que os veículos a partir de 2035 possam ser equipados com o mesmo motor que antes – em termos gerais – mas que os impedissem de arrancar e de funcionar se utilizassem gasolina ou gasóleo provenientes de fontes de combustíveis fósseis.
Em qualquer caso, apesar do facto de a mobilidade estar a caminhar para um novo paradigma, a realidade é que o está a fazer a um ritmo mais lento do que o esperado, pelo que estas tendências estão a abrandar e a sua plena implementação está a ser adiada. A consequência direta deste abrandamento é que as oportunidades de negócio propostas a médio prazo estão a ser redefinidas a longo prazo. Entre estas oportunidades, os fornecedores colocam o enfoque na manutenção preditiva, graças ao aumento das opções de conectividade. Contudo, para que isto aconteça, o sector terá de “lutar” em Bruxelas para assegurar que o acesso aos dados seja universal, um princípio essencial para garantir a livre concorrência.
Tendências como os combustíveis sintéticos, a distribuição através de plataformas de comércio eletrónico e a importância da formação como instrumento para o posicionamento das empresas no mercado, são os grandes temas da atualidade, que devem ser debatidos e discutidos com todos os intervenientes do setor. Só um mercado esclarecido poderá ter sucesso no futuro.