“Técnico de repintura automóvel é uma profissão de futuro”, António Caldeira, CEPRA
O CEPRA (Centro de Formação Profissional de Reparação Automóvel) está empenhado em fazer face à escassez de recursos humanos que é cada vez mais evidente na área da repintura automóvel. Desde o seu início, há mais de 40 anos, que tem cursos para Técnicos de Reparação e Pintura de Carroçarias, mas assume agora um lugar preponderante na qualificação da mão-obra que tanta falta faz às oficinas
A dificuldade em conseguir mão-de-obra qualificada na área da repintura já não é novidade para ninguém. O estigma da profissão de pintor automóvel continua a existir e é complicado atrair novos profissionais para o setor, numa altura em que a idade média dos que estão no ativo não para de aumentar e as empresas desesperam à procura de soluções. Neste panorama, o Jornal das Oficinas foi conversar com António Caldeira, diretor do CEPRA, que nos deu a conhecer a oferta formativa disponível na área da repintura.
Para todas as idades
Criado em 1981, o CEPRA sempre teve nas suas bases o apoio ao pós-venda da reparação automóvel e, nestas quatro décadas, já viveu muitas fases diferentes, alturas havendo em que “tinha muitos formadores e muita procura”, relembra António Caldeira, orgulhoso do amplo percurso do centro. Hoje, o CEPRA tem cursos de qualificação inicial “que são os mais difíceis de constituir e essa é a forma que temos de apoiar as empresas, de fornecer novos profissionais, na qualificação”, com um público-alvo de jovens até aos 29 anos. Nestas ações de formação juntam-se a reparação e a pintura, “para ser mais fácil constituir uma turma”, que é uma dificuldade já antiga, conta: “Há sempre um formando que tem mais apetência para reparação de carroçarias, outro para pinturas e ao começarmos uma turma com a reparação, eles próprios depois fazem a triagem. Este tipo de curso tem formação em centro e depois uma parte prática em contexto de trabalho, nas oficinas. E eles aí veem para que lado estão mais vocacionados”, explica. Por outro lado, o CEPRA disponibiliza também formação contínua, para apoiar os profissionais que já estão no setor.
Curso com dupla certificação
Desde que inicia o curso, até estar apto a ir para uma oficina, já com a certificação feita, o formando precisa de cerca de dois anos a dois anos e meio, em três períodos que não correspondem a anos letivos. Em cada um dos períodos, a turma inicia com a componente teórica e de prática simulada, passando, depois, à formação prática em contexto de trabalho, diretamente numa oficina. “Consideramos que é a melhor abordagem para as oficinas e para todos, pôr a formação prática em contexto de trabalho, no final de cada período. A esta formação chama-se alternância, centro-empresa. Depois há outra possibilidade, por exemplo três dias no centro, dois dias na empresa, mas nós consideramos melhor a abordagem por bloco, no final da formação”, esclarece o diretor do CEPRA, que conta que o curso “tinha 900 horas de formação em centro e 300 horas de estágio, mas houve recentemente uma reformulação, cresceu um bocadinho e, no total, o primeiro período anda nas 1350 horas. Depois no segundo período vai diminuindo a formação em centro e vai aumentando no contexto de trabalho. No final, no caso deste curso, ronda as 4 mil horas”. Terminado o curso, “o formando sai com as competências ou para bate-chapas ou para pintor, para trabalhar em qualquer oficina de colisão”. O nono ano é requisito mínimo de entrada e o curso dá dupla certificação: Equivalência ao 12.º ano e qualificação profissional de nível 4 (QNQ/QEQ), com possibilidade de acesso ao ensino superior. Para tal, o Centro de Formação Profissional de Reparação Automóvel conta com quatro formadores internos para a área da colisão.
“A profissão tem futuro”
António Caldeira acredita que ainda subsiste o estigma da profissão de pintor, nos jovens e nas famílias. A isso soma-se a questão da remuneração, que “já está melhor, que é a consciencialização das empresas de que têm de pagar mais, pois a base continua a ser muito baixa. Um jovem que investe aqui três anos da vida, vai três períodos para uma empresa, o último das quais está lá seis meses a trabalhar e no final oferecem um contrato de ordenado mínimo… não é muito atraente, e por isso não é de estranhar que depois enveredem por outro caminho”, salienta. “Vejo que a profissão tem futuro, aliás, se pensarmos que os elétricos são o caminho, uma coisa que vai acontecer sempre são as colisões. Profissionais para esta área vão sempre ser necessários e quem está mais capacitado para que tudo corra bem no setor da reparação são os pintores, os reparadores… os outros, se calhar, vão ser reconvertidos para o atendimento…”, sugere António Caldeira, que deixa uma mensagem aos profissionais da reparação automóvel: “Se for para responder à evolução que está a haver nas tintas, são mesmo necessários profissionais, senão ficam para trás na tecnologia e cristalizam. A formação contínua é obrigatória e o setor vai poder continuar a contar com o CEPRA, que tem todas as ferramentas para dar esse apoio”, garante o diretor.
Leia a entrevista completa na edição impressa do Jornal das Oficinas de abril/maio.