“Temos de perceber e interpretar os sinais que o mercado nos vai dando”, Carlos Gonçalves, Filourém

Perante a pandemia, a Filourém não baixou as vendas, e continua a trabalhar e a tentar crescer de forma sustentada, mas a curva de crescimento abrandou um pouco, tendo ficado bem claro para o gerente Carlos Gonçalves durante este período, que neste negócio, “há valores inegociáveis: as vendas são sempre uma referência, mas a honestidade, a transparência e a vida saíram reforçadas”
Sobre as maiores dificuldades atuais, Carlos Gonçalves aponta o impacto das devoluções e ainda das falhas de stock, que define como “um flagelo geral e transversal no nosso setor”, o que tem levado a “adaptações e alterações na forma como gerimos o nosso stock” e à “procura de outras alternativas no mercado, como a realização de mais encomendas e com maior frequência”.
Sobre as leis mais apertadas em matéria da segurança dos componentes, Carlos Gonçalves não hesita: “A segurança é fundamental para todos e a tecnologia ajuda muito nesse sentido. Desde que a legislação seja clara e aplicável por e para todos, o aftermarket terá que se adaptar”, diz, acreditando que há espaço no mercado para todos, tanto marcas de origem, como mercado independente.
A Filourém tem apostado numa comunicação online com os seus clientes, com envio de informação sobre novos produtos e campanhas. Qual tem sido a recetividade dos clientes?
A recetividade tem sido muito interessante; as nossas conclusões são tiradas em função das expectativas e objetivos criados e direta ou indiretamente o saldo tem sido muito positivo.
Considera importante este contacto online? E o contacto presencial?
Consideramos muito importante o contacto online porque vários meios digitais agilizam e ajudam em diversos processos, bem como, todos nós sabermos o facto de caminharmos para uma era altamente informatizada. No entanto, ainda que com menor frequência e com uma abordagem diferente, o contacto presencial continua a ser fundamental de forma a conhecer os nossos clientes e fornecedores, de forma a termos um vínculo e uma ponte afetiva que passe os nossos valores, que apresente os nossos produtos e conceitos, bem como criar um clima de confiança.
Que balanço faz da parceria com as marcas que distribui em exclusivo: Original Birth e Japko? Considera que existe potencial para estas marcas crescerem mais no nosso mercado?
O balanço é muito positivo e continuamos a reforçar a nossa ligação com esses dois parceiros. Sem dúvida que existe muito potencial e espaço para trabalhar até porque caso não acreditássemos nesse potencial de crescimento e de evolução, não seriam duas das nossas mais relevantes marcas.
A Filourém continua a diversificar o seu portfólio de marcas e gamas de produto para o aftermarket. Quais as mais recentes incorporações e novidades na vossa oferta de produtos?
Em primeiro lugar, temos sempre como objetivo desenvolver e trabalhar o melhor possível os produtos que já constam no nosso portfólio. No entanto, é óbvio que estamos atentos ao mercado e sempre recetivos a incorporar novas marcas; iniciámos recentemente a comercialização da INA e BERU e temos outras marcas premium na calha, estando algumas em negociações avançadas.
Ao final de quase dois anos de pandemia, os efeitos da crise para o negócio da Filourém foram piores ou menores do que esperavam?
No fundo, foi ou continua a ser um fenómeno que influencia os mais diversos campos da nossa sociedade; obviamente que, não sendo dos mais afetados, o nosso setor também sofreu com este período pandémico. Foi fundamental a capacidade de adaptação das empresas e também a superação do ser humano, de forma a arranjar ferramentas no combate a este flagelo. A Filourém continuou e continua a trabalhar e a tentar crescer de forma sustentada. No fundo e resumindo, não baixámos as nossas vendas, no entanto a curva de crescimento que se estava a verificar abrandou um pouco.
Quais os grandes ensinamentos que a pandemia trouxe para a Filourém, a nível da gestão, estratégias comerciais e prestação de serviços?
Efetivamente, toda esta situação trouxe-nos grandes ensinamentos; a aposta na digitalização que há muito que estava em curso, só foi reforçada, aumentada e apressada. A necessidade de nos ajustarmos e sabermos adaptar-nos às constantes leis, contingências e diferentes realidades A otimização de recursos, especialmente os humanos foi uma realidade, bem como a capacitação de que há valores inegociáveis: as vendas são sempre uma referência, mas os valores da Honestidade, da Transparência e da Vida em si saíram reforçados neste momento delicado.
Como a Filourém tem conseguido minimizar o impacto das devoluções a nível de custos e recursos humanos afetos à gestão dessas devoluções?
Com ou sem pandemia, continua a ser um dos temas mais complexos e sensíveis de abordar. As mesmas continuam a existir, por vezes com motivos ou justificações inacreditáveis e se existisse mais diálogo entre os diversos players e regras mais claras para todos, poderíamos minimizar a quantidade o impacto das devoluções, que realmente consomem muito tempo e recursos.
Decorrente de toda esta situação pandémica, os fornecedores estão a ter falhas de stock com alguma relevância. Que efeitos está a ter na vossa atividade a dificuldade de abastecimento de peças junto dos vossos fornecedores?
Pensamos que é um flagelo geral e transversal no nosso setor (e em outros também!!). É um facto que temos tido algumas dificuldades nesse aspeto, fruto das faltas de matéria prima e consequentemente nas dificuldades de entrega por parte dos nossos fornecedores. Temos feito adaptações e alterações na forma como gerimos o nosso stock e procuramos outras alternativas no mercado.
Que alternativas foram levadas à prática para compensar essas dificuldades?
De uma forma muito direta e prática, adotámos as seguintes medidas: realizamos mais encomendas, por vezes mais pequenas, mas com mais frequência e assim tentamos minimizar o impacto das falhas nos nossos fornecedores e até o impacto dos pendentes. Além disso, como dissemos anteriormente, procurámos outras alternativas no mercado de forma a colmatar essas mesmas falhas.
Considera que os preços das peças vão aumentar nos próximos tempos?
Pensamos que sim, é difícil que assim não seja. Não sabemos como vão ser os próximos tempos, como vai a economia reagir, a questão da falta de matérias primas, o preço dos combustíveis, possíveis crises financeiras, sociais… Vamos aguardar e esperar que se possa trabalhar dentro da normalidade.
A perda de margem na comercialização das peças está a criar dificuldades às empresas de distribuição. Como se pode alterar esta situação?
É difícil haver concertação neste campo… Prende-se em parte com os aumentos dos produtos, com tudo o que referimos anteriormente, com a Lei da Oferta e da Procura e também pela existência de uma grande concorrência, mas procuramos não baixar a nossa margem. Naturalmente que o preço é um fator importante, algumas vezes decisivo, mas não o único e arriscamo-nos a dizer que não o principal. A qualidade e oferta do produto, o serviço, as entregas, são outros fatores que pesam imenso no momento da compra.
Com o endurecimento da legislação em matéria da “segurança dos componentes”, a homologação de peças de substituição pode aumentar, designadamente para o sistema ADAS. Considera que esta situação pode condicionar a atividade dos distribuidores de peças aftermarket?
A Segurança é fundamental para todos e a tecnologia ajuda muito nesse sentido; desde que a legislação seja clara e aplicável por e para todos, o aftermarket terá que se adaptar nesse sentido.
A base do negócio pós-venda automóvel é o acesso à informação e aos dados. Como está a Filourém a adaptar-se e esta nova realidade?
Concordo com a afirmação, mas existem outras variantes que entram na equação. De qualquer forma, há muito tempo que isso é uma realidade e há muito que nos vamos preparando nesse sentido. A forma mais fiável de ter acesso a essa informação da nossa parte é passá-la aos nossos clientes é trabalhando maioritariamente com plataformas Originais.
Os fabricantes de automóveis estão cada vez mais ativos no mercado pós-venda. Como vai ser no futuro a convivência entre as marcas de origem e as de aftermarket? Quem vai ganhar a maior fatia do mercado pós-venda?
É difícil prever, ou pelo menos, os timings e as “fatias de mercado” que referiu; mas sim, é muito provável que isso aconteça e que as marcas de origem vão ganhando cota de mercado, havendo no entanto espaço para ambos.
A concentração do negócio da distribuição de peças é uma realidade. Considera que esta tendência vai continuar na Europa e em particular no nosso país?
Sim, sem dúvida que achamos que esse fenómeno está em marcha e que vão continuar a aparecer Novos Grupos e a desenvolverem-se os atuais. Havendo prós e contras, é algo que julgamos inevitável. Pensamos que poderá ser prejudicial a quem fechar os olhos a esta tendência e se recusar a constituir ou aderir aos mesmos. Como vantagens, eventualmente aumenta-se a margem de negociação, o poder de compra, a oferta para os clientes torna-se maior e mais diversificada, entre outros benefícios…
Os veículos elétricos requerem menos manutenção do que os veículos a combustão. Como a Filourém está a preparar-se para compensar as perdas de faturação que estes veículos vão originar?
Em primeiro lugar, estamos despertos para essa situação e estamos a tentar preparar-nos o melhor possível nesse sentido. Atualmente já estamos a trabalhar com vários componentes para essas viaturas, nomeadamente das linhas de travagem, suspensão e direção.
Quais serão as maiores ameaças mas, por outro lado, quais serão as maiores oportunidades de toda esta evolução do negócio aftermarket?
Esta questão, esmiuçada, daria para várias páginas…Toda a sociedade muda a um ritmo demasiado rápido, mas o nosso setor é a um ritmo vertiginoso. Penso que uma das oportunidades ou segredos se preferir, é a necessidade de estarmos atualizados de uma forma geral com as várias novidades do setor e perceber e interpretar os sinais que o próprio mercado nos vai dando.
Tendo em conta a sua experiência no setor da distribuição de peças, que análise faz do mercado de distribuição de peças automóvel em Portugal e como vê o futuro dos canais aftermarket e de peças originais?
Olhando um pouco em perspetiva e tentando prever um futuro de curto-médio prazo, são incontornáveis alguns temas que já abordámos anteriormente como a questão da concentração do negócio em grandes grupos, o crescimento no parque automóvel dos veículos híbridos e elétricos… Estas duas situações irão certamente aumentar, isso parece-nos claro! Também achamos que, as empresas do Aftermarket que se souberem posicionar e manter atualizadas, continuarão a ter o seu espaço e cota de mercado.
Considera que os canais de distribuição tradicional vão manter-se: Fabricantes – Distribuidores – Retalhistas – Oficinas?
Os canais de distribuição até se podem manter, mas terão que se reajustar e redimensionar, admitindo, porém, que possam haver alterações mais profundas. Havendo o aumento e a proliferação dos grupos, bem como o crescimento e transformação de alguns retalhistas, terão que haver adaptações, sob pena de alguém na cadeia perder preponderância.




