“Vejo crescimento para os próximos 10 anos”, Nexus Automotive International
Criado há onze anos, o Nexus Group é atualmente o maior grupo internacional de compras do mundo, com um volume de negócios cifrado em 45 milhares de milhões de dólares. Ao longo dos anos têm vindo a diversificar o negócio e consideram que têm todos os ingredientes para fazer parte da transformação do aftermarket automotivo, que se avizinha para os próximos anos. O Jornal das Oficinas falou com Gael Escribe, fundador e CEO da Nexus Automotive International, que nos mostrou a sua visão sobre o futuro do pós-venda automóvel, sempre com uma tónica positiva
O negócio principal do Nexus Group, enquanto grupo internacional de compras, é fazer a ponte entre os fabricantes e os distribuidores, promovendo mais de 100 fornecedores a nível mundial – japoneses incluídos – mas a empresa sentiu necessidade de evoluir e apostou em várias atividades adicionais. Através da empresa Mobilion compra start-ups no setor da mobilidade; criou a marca Drive Plus para fazer face ao envelhecimento do parque automóvel, que é desenvolvida pela empresa Small Parts e, em paralelo, detém ainda a empresa Autoparts United, com o objetivo de adquirir distribuidores pelo mundo, por forma a consolidar o grupo Nexus. Gael Escribe, fundador e CEO da Nexus Automotive International aceitou falar connosco para nos contar os projetos atuais do grupo, mas também a perspetiva sobre o que poderá esperar este setor. O CEO explica que “investimos, temos a nossa marca própria, estamos ativos na consolidação, o que nos permitiu construir um verdadeiro grupo, tendo o nosso core business nas compras e, diversificando, criámos um grupo que terá, espero, um papel de liderança na transformação do aftermarket automotivo”.
Elétricos não são a solução
O responsável máximo do grupo Nexus mostra-se atento à rápida evolução do setor, mas não teme o advento dos veículos elétricos, que, antevê, não serão o único caminho para a evolução dos transportes. Defende que estes são já uma parte do parque automóvel, para a qual devem estar preparados, mas diz-se “muito cético” que esta seja a solução para o futuro. Assinala que “a infraestrutura atual não é suficiente, nem se está a desenvolver suficientemente para ir ao encontro de um parque automóvel que seja predominantemente feito de veículos elétricos” e relembra que o preço destes automóveis continua a ser uma barreira importante, especialmente no hemisfério sul do globo, como a América do Sul, a América Latina, África ou o Médio Oriente. “No hemisfério norte, penso que haverá alguma resistência ao crescimento. A China capitalizou os veículos elétricos e, por isso, é provável que prossiga o seu desenvolvimento. A América do Norte não está, definitivamente, muito entusiasmada com a implantação de veículos elétricos”, diz opiando que “a dinâmica que nos era apresentada antes do Covid-19 mudou e a avenida de sentido único de que falavam não vai acontecer de certeza. Toda a gente previa um declínio do pós-venda automóvel e isso é exatamente o oposto do que está a acontecer devido ao envelhecimento do parque. Estamos num negócio ativo e um negócio ativo atrai investidores, ao contrário do que aconteceu há quatro anos, quando as previsões os fizeram sair em debandada. Eu estou otimista, vejo crescimento pelo menos para os próximos 10 anos”.
Por outro lado, numa altura em que é possível remanufaturar ou reutilizar 70% das peças de um carro, Gael Escribe acredita que estas ocuparão um lugar cada vez maior no negócio do aftermarket automotivo. Embora nas últimas décadas este setor tenha registado um declínio, o CEO do grupo Nexus afirma que “desenvolver peças remanufaturadas é algo que está nos nossos projetos e queremos ter mais referências, pois penso que essas peças ocuparão mais espaço nos próximos dez anos”.
Fabricantes multimarca
A chegada ao mercado dos fabricantes multimarca, com qualidade comprovada e preços competitivos, traz alterações ao negócio. Escribe entende que, perante um parque automóvel em que metade dos carros tem uma idade superior a dez anos, este segmento só poderá tender a evoluir: “O consumidor procura uma solução mais económica, mas com qualidade, porque as pessoas querem manter os seus carros por mais tempo. Nesta incerteza, os consumidores preferem investir menos, mas numa solução de qualidade”. Foi isto, diz, que fez a Nexus optar por criar a já mencionada Small Parts, para promover as suas marcas próprias e “desenvolvê-las em cooperação com os fabricantes, porque não é uma perda para eles. Simplesmente, estes terão de se adaptar a uma segmentação diferente de produto no futuro”.
Também a distribuição será diferente num futuro a médio prazo, pois é necessário ter processos de abastecimento mais simples, “e porque não abastecer diretamente da fábrica?”, deixa a questão no ar. “Se formos capazes de prever e trabalhar lado a lado com os fabricantes, conseguiremos de certeza ter um melhor serviço por parte deles e poderemos reduzir o stock. É aí que está o futuro”, considera.
“A consolidação é inevitável”
Gael Escribe analisa o fenómeno da consolidação no aftermarket automotivo com muita clareza, salientando que mesmo que os resultados das grandes empresas não sejam os melhores, esta é uma tendência que se está a tornar “inevitável na nossa indústria”. O fundador do grupo Nexus comenta que “olhando para os resultados das grandes empresas como a LKQ ou a GPC, na primeira metade do ano, vê-se que não são espetaculares e que as empresas médias têm hoje, geralmente, mais crescimento do que as grandes consolidadoras. As que referi até decaíram, no segundo trimestre. Na nossa indústria ainda há uma necessidade de proximidade, agilidade e de serviço, em que, provavelmente, as empresas médias são mais eficientes do que as grandes. De forma ideal, se pudéssemos ter um projeto de consolidação e manter o espírito das empresas de média dimensão, seria uma vitória dupla”.
Na opinião do nosso interlocutor, as peças impressas em 3D “já são uma realidade, pelo que têm de ser incorporadas no negócio”. No entanto, Gael Escribe aponta a inteligência artificial como o tema que está agora a provocar debates e não tem dúvidas de que “a inovação tem de fazer parte das estratégias dos líderes do aftermarket automóvel. Essa é a razão pela qual a Nexus tem um Comité de Inovação e a razão pela qual investimos em start-ups. Acredito que a inteligência artificial será, talvez, a maior revolução que iremos incorporar nos próximos 5 a 10 anos”.
Questionado sobre a forma como o grupo Nexus vê o futuro deste negócio, o CEO diz-nos … saiba a resposta na edição impressa ou online do Jornal das Oficinas nº221, aqui.