“A Distribuição como a conhecemos vai mudar”

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Manuel Félix, COO do grupo 3A Aftermarket, acredita que “o veículo elétrico não irá ter a penetração que todos pensavam. As oficinas terão de adaptar-se porque, apesar de o 100% elétrico não estar a vender conforme esperado, os PHEV e HEV, ainda continuam com penetração e têm uma componente elétrica que necessita de formação para se lhe dar assistência”

Na opinião do responsável, a descida no consumo das peças de alta rotação já não será um problema para a sua geração, pois, em contrapartida, por exemplo “a frequência de substituição da travagem aumenta, dos pneus também, as reparações de carroçaria tenderão a ser mais caras. Assim, irá com certeza existir uma quebra de vendas em algum tipo de produtos, mas penso que não será um problema nos próximos 5-10 anos”.

Para Manuel Félix, “a economia circular é algo que está na moda. Pena que não se façam os cálculos corretos dos custos para o ambiente. Uma peça que tenha que ser fabricada, transportada e armazenada até a uma oficina, que depois faz todo o circuito inverso para poder ser reconstruída tem uma pegada ecológica que não é desprezível. Existirá um mercado para este tipo de produtos, mas, parece-me, no futuro, que existirá um equilíbrio onde este tipo de negócio continuará a existir com regras provavelmente diferentes e para produtos onde efetivamente se justifique. Penso que, cada vez mais, no desmantelamento e reciclagem dos automóveis iremos ver a recuperação de matérias primas a ser feita com mais intensidade do que o que se faz hoje”.

Sobre o futuro da distribuição, este responsável considera que “não podemos ser radicais e dizer que tudo vai ser consolidado nem podemos dizer que se não for consolidado não terá futuro”, mas alerta que “a distribuição, como a conhecemos hoje, vai mudar. Ao nível da grande distribuição acredito que os grandes players em Portugal irão ser três ou quatro no futuro. Consoante o seu modelo de negócio, terão de adaptar-se”. A mesma adaptação acontecerá nos pedidos aos fornecedores onde, antevê, “existirão grandes operações logísticas, a um nível central, aos quais os pequenos retalhistas poderão aceder para fazer os seus pedidos o que vai diminuir os stocks dessas empresas. A loucura das entregas vai ter que acabar ou então não haverá ambiente que aguente o que se está a fazer. Andamos a reconstruir peças para poupar o ambiente e depois entregamos as mesmas 10 vezes ao dia com a pegada ecológica que isso representa? Não me parece possível, até porque não é rentável”, diz.

Em 2050 os transportes na Europa tenderão a estar completamente descarbonizados e o nosso entrevistado entende que a adaptação ao negócio “faz-se através a consolidação. Reduzindo o número de atores no mercado a adaptação é natural”. A Inteligência Artificial terá o seu papel “na predição do que pode acontecer a uma determinada peça num veículo, por exemplo. Qual o seu tempo útil de vida, a adequação da produção de peças às necessidades do mercado, otimizando essa parte ao nível do fabricante.

Ao nível do aftermarket pode e será um fator importante na gestão e otimização de stocks”. O grupo 3A Aftermarket “está numa fase de consolidação e crescimento. Estamos a consolidar as aquisições que já fizemos e a olhar para eventuais novas oportunidades. Como acreditamos que o mercado não vai mudar radicalmente nos próximos anos continuaremos a procurar ser um player ativo no mercado, com uma presença geográfica que nos permita ter uma cobertura nacional e com um portfólio de produtos que nos permita ser aquilo que é o nosso lema: o seu fornecedor global de aftermarket”, conclui.

Esta entrevista também está disponível na edição impressa e online da Revista TOP100 Distribuidores 2024, aqui.