Dupla penalização

05 - Editorial-Jornal-das-Oficinas

Não há números oficiais de quantas reparações ou revisões de manutenção se realizam em oficinas ilegais, mas sabe-se, pelas estimativas das Associações do setor, que existem entre 10 e 15% de oficinas não legais em Portugal.

Uma grande maioria delas já foram estabelecimentos que laboraram legalmente durante anos, mas que, fruto da crise, tiveram que encerrar e abrir de novo de forma clandestina.

E, apesar das múltiplas campanhas de alerta quanto aos perigos que resultam de levar o veículo a este tipo de oficinas, ainda há quem desconheça quais são as consequências resultantes, tanto para o utilizador como para ambiente, de se “confiar” nas oficinas ilegais.

O primeiro prejudicado é o próprio cliente. Sob essa falsa crença de que realizando uma intervenção mecânica clandestina se está a poupar dinheiro, na realidade não é assim. Porque as oficinas ilegais utilizam peças de substituição e equipamentos muito pouco fiáveis e, em muitos casos, de proveniência duvidosa, o que a longo prazo gera mais problemas do que aqueles que, à partida, resolve a curto prazo. Nestes casos, a expressão que diz que o barato sai caro não pode ser mais acertada.

Naturalmente, no caso de algum problema posterior com a reparação ou caso se detete que as peças substituídas são, por exemplo, provenientes de uma sucata, não haverá forma de reclamar, visto que não existe garantia alguma da intervenção. Para não falar dos possíveis problemas ainda maiores que podem ocorrer no veículo. Não será a primeira vez que um condutor leva o seu automóvel com uma pequena avaria a este tipo de locais e acaba por ter de gastar muito mais depois numa oficina de reparação legal porque a falta de formação necessária para realizar corretamente as atividades de reparação e manutenção gerou um problema muito mais grave no veículo do que aquele que havia originalmente.

Por último, as consequências dramáticas para o ambiente. As oficinas ilegais não contam com qualquer plano de gestão de resíduos perigosos e trata-se de um setor no qual estes não são propriamente poucos. Óleos usados, plásticos, vidros, pneus ou baterias são componentes que necessitam de tratamentos específicos para a sua gestão residual. E isso é algo que deve preocupar cada vez mais os proprietários das oficinas legais, que cumprem as suas obrigações e são muitas vezes penalizados pelas inspeções da Autoridade Tributária, com elevadas multas. E quanto mais penalizadas são tanto mais beneficiam as empresas ilegais, o que se torna numa dupla penalização.