Garagem Bernardino: Uma oficina de charme
A um par de anos de completar meio século, a Garagem Bernardino é uma oficina que sabe aliar a tradição aos tempos modernos. Sob a gestão de novos sócios desde fevereiro de 2021, tem vindo a aumentar a faturação mês a mês e a ambição de lhe devolver o dinamismo dos tempos áureos não para de crescer
Situada na Rua dos Industriais, na Estrela, em Lisboa, a Garagem Bernardino fará, em 2024, cinquenta anos. Guarda o nome do seu fundador, o senhor Bernardino, mas há muito que se despediu da bomba de gasolina, que teve de ser desativada quando os postos de combustíveis foram proibidos em prédios urbanos. Hoje, é Vasco David – um dos três sócios que detém a empresa – que nos relata a história daquele espaço: “Segundo me dizem, a Garagem tinha um movimento incrível, com área de carroçaria… e quando o sr. Bernardino faleceu, o sr. Cruz ficou como gerente e a oficina foi perdendo a dinâmica”. Os outros dois sócios, ali vizinhos, desafiaram-no a relançar o negócio e, depois de quatro anos de negociações com os anteriores proprietários, em 2020 obtiveram luz verde. “Resolvemos avançar no final desse ano e tomámos efetivamente posse da oficina em fevereiro de 2021”, conta Vasco David, que, apesar da larga experiência e carreira em várias áreas do setor automóvel, se viu obrigado “a começar do «menos um», porque a oficina estava muito degradada e as pessoas já se tinham habituado a que praticamente não havia mecânica, era só lavagens e recolhas”, uma ideia que se tem vindo a alterar.
De mangas arregaçadas
Sendo os sócios da área financeira, é Vasco David quem toma as rédeas e dá a cara na oficina e, numa estrutura pequena, assume que acaba por ser “pau para toda a obra”, desde rececionista, a orçamentista e comercial, fazendo ainda a ponte com os fornecedores e o acompanhamento da oficina. Atualmente, é com orgulho que refere que “houve e ainda há muito a fazer, mas felizmente todos os meses aumentamos a faturação e face a 2021 já duplicámos o volume de negócios”.
A Garagem Bernardino tem, atualmente, dois elevadores e dois mecânicos que se dedicam maioritariamente a realizar serviços rápidos, embraiagens e distribuições multimarca, “mais até do que eu estava à espera”, revela Vasco David. Por dia, a oficina faz cerca de quatro a cinco revisões, junto às quais “vêm uns discos ou umas pastilhas… e a atividade de travão é bastante rentável!”, explica. Por outro lado, uma área que trabalham menos bem, “por ser muito complicada e com margens muito baixas”, é a dos pneus. Contam até com a máquina de montar/desmontar e equilibrar, mas não dispõem da máquina de alinhar direções, visto que não compensa. Ainda assim, não deixam de servir o cliente, graças a um protocolo com a Pneus dos Prazeres, que recolhe o carro e faz o serviço.
Neste momento, a oficina trabalha essencialmente com três fornecedores: a AleCarPeças, a Europeças e a Soulima. Quando é preciso escolher a qualidade das peças, Vasco David não hesita, “tento utilizar peças premium, porque dão muito mais garantias. Prefiro, porque a diferença não é assim tão grande”. No mesmo sentido, está encaminhado um acordo com a Liqui Moly, que em breve emprestará as suas cores à frente da loja. “Tenho noção que os óleos são caros, mas prefiro perder um bocadinho de margem e dar uma imagem de serviço premium, até porque esta é uma zona com algum poder de compra”, explica o responsável.
Um negócio de confiança
Já assediado por redes de oficinas para abandeirar a Garagem Bernardino, Vasco David mantém-se firme na sua decisão de continuar independente: “Pode ser que mude de opinião, mas neste momento prefiro ter a minha identidade cinquentenária do que integrar uma rede de oficinas com uma visibilidade muito grande, pois entre muitas, há oficinas muito boas e outras muito más e geralmente a opinião vai pelas muito más”, defende.
Ali, tanto Vasco como os sócios contam com uma grande vantagem, o facto de conhecerem muita gente. “Eles vivem aqui há muitos anos, eu vivo em Cascais, e, em parte, o sucesso e o alto grau de aceitação de orçamentos que temos (que ronda os 95%) é porque são pessoas nossas conhecidas, que nos depositam essa confiança. E a oficina é cada vez mais um negócio de confiança!”
Problemas transversais
Com muita ou pouca história para contar, a verdade é que, neste setor, a falta de mão de obra é uma realidade transversal. Na Garagem Bernardino, trabalham Frederico, “com muita experiência e curiosidade na resolução de problemas” e João Pedro, “jovem, mas muito bom executante, face à idade que tem. Completam-se e têm muito a ganhar e a crescer com a experiência um do outro”, elogia o responsável, adiantando que ali todos têm de fazer um pouco de tudo. Se, na mecânica, ainda estão longe de chegar ao «overbooking», nas lavagens já se vão notando picos de marcações. A tendência é agora “acabar com as recolhas de carros durante o dia, porque já houve alturas em que senti que a atividade das lavagens e da oficina foi prejudicada”. Em paralelo, nos serviços da oficina, sabe que está “a praticar preços muito em conta, face à qualidade do serviço e do material, sacrificando, neste momento, um bocadinho da margem, mas estamos ainda a semear”, diz. Para já, Vasco David quer arrancar em força com a presença nas redes sociais e quer remodelar a imagem exterior da oficina. Por dentro, a Garagem Bernardino ainda está longe de se apresentar como Vasco gostaria, “mas é uma oficina, não é um Airbnb!”, graceja, chamando a atenção para o teto, que está a precisar de uma nova pintura”.