Internacionalização empresas: Um risco ou um bem necessário?

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A internacionalização das empresas oferece uma série de benefícios estratégicos, operacionais e financeiros. Mas também acarreta riscos. Neste artigo, damos a conhecer exemplos de empresas de sucesso no aftermarket automóvel nacional que escolheram internacionalizar-se e deixar a marca “Made in Portugal” espalhada pelo mundo

A globalização da economia e a crescente concorrência forçam as empresas a procurar novas alternativas para garantir a sustentabilidade dos seus negócios. Num ambiente tão dinâmico, a capacidade de adaptação torna-se fundamental para manter a competitividade. Uma das estratégias mais eficazes para alcançar a rentabilidade a longo prazo e, sobretudo, assegurar a sobrevivência, tanto de pequenas e médias empresas (PMEs), quanto de grandes corporações, é através da internacionalização. A internacionalização permite que uma empresa ultrapasse as fronteiras do seu mercado doméstico, atuando em novos contextos e oferecendo os seus produtos e serviços à escala global. Esta expansão estratégica visa não apenas aumentar a base de clientes, mas também diversificar riscos e explorar novas fontes de receita, seja por meio do acesso a novos recursos ou da redução de custos.

Entrada em Mercados Estrangeiros
O processo de internacionalização exige uma análise cuidadosa das características internas da organização e das condições externas dos mercados-alvo. Os fatores internos incluem a motivação da empresa para se expandir e a sua capacidade operacional, enquanto os fatores externos envolvem questões como proximidade geográfica, semelhanças linguísticas e integrações económicas. Existem várias estratégias que uma empresa pode adotar para entrar em mercados estrangeiros, cada uma com vantagens e desafios específicos. Abaixo, exploramos alguns dos principais modelos de internacionalização.

Exportação: A exportação envolve a venda de bens ou serviços de agentes residentes para entidades não residentes, podendo ser feita diretamente ou através de intermediários. Embora permita o acesso a novos mercados e tecnologias mais avançadas, que ajudam na melhoria da sua estratégia e produtividade, também enfrenta desafios como custos logísticos, barreiras alfandegárias e flutuações de câmbio.

Franchising: O franchising é um modelo de licenciamento onde, além da propriedade intelectual, também se partilham o know-how operacional e as marcas do negócio. Este permite uma expansão mais rápida com menores investimentos, aproveitando o conhecimento e a experiência local dos franchisados. No entanto, manter a consistência da marca e garantir que sejam seguidas as mesmas práticas e padrões de qualidade pode ser um desafio.

Licenciamento: O licenciamento é um acordo em que uma empresa cede a outra o direito de produção, utilização e comercialização dos seus produtos ou ativos intangíveis numa área geográfica específica. Este modelo funciona melhor com marcas de forte notoriedade, que atraem consumidores para os produtos ou servidos promovidos pela marca licenciada. As vantagens incluem uma expansão rápida, retorno mais célere de investimentos e a possibilidade de evitar tarifas aduaneiras. No entanto, é essencial garantir que a qualidade da marca e dos produtos seja mantida, mesmo com a operação local do licenciado.

Joint Ventures: As joint ventures são parcerias entre empresas que formam uma nova entidade legal ao combinar recursos, riscos e lucros para entrar num mercado estrangeiro. Este modelo permite partilhar know-how, aproveitar uma base de clientes existente e aumentar a capacidade de investimento. No entanto, a falta de autonomia e problemas associados ao exercício de controlo de operações podem ser um desafio na garantia do sucesso da parceria.

Fusões: As fusões envolvem a união de duas empresas numa única entidade, eliminando a independência das organizações originais. Esta estratégia permite combinar mercados, recursos e operações de forma permanente, criando uma presença forte e integrada no mercado estrangeiro. No entanto, enfrentam desafios complexos, como a integração de culturas organizacionais, sistemas operacionais e estruturas de gestão independentes, que podem afetar o sucesso da nova empresa.

Aquisições: A aquisição envolve a compra de uma empresa já estabelecida no mercado-alvo. Esta abordagem oferece acesso imediato a uma base de clientes, rede de distribuição e presença local. No entanto, pode ser um processo complexo e dispendioso, exigindo uma diligência prévia para evitar riscos legais e financeiros.

Portugueses Preferem Exportação
A exportação é uma das formas mais comuns de internacionalização para as empresas portuguesas. Segundo o Banco de Portugal, esta abordagem demonstra um desempenho superior ao investimento direto português no exterior (IPE), que ocupa a segunda posição entre os principais tipos de entrada em mercados internacionais. Dados do Instituto Nacional de Estatística revelaram que, em 2022, as exportações portuguesas de bens atingiram os 78.207 milhões de euros, o valor mais elevado de sempre das estatísticas do comércio internacional, traduzindo um acréscimo de 22,9% comparativamente ao ano anterior. Em 2021, as exportações tinham subido 18,3%. Face a 2019, o acréscimo foi 30,6%.
A previsão para os próximos anos, de 2025 a 2027, segundo o Boletim Económico de Dezembro de 2024 do Banco de Portugal, é de 3,3%, em média. Refletindo sobre o ano passado: “No primeiro semestre de 2024, os exportadores portugueses de bens continuaram a ganhar quota em termos nominais nos mercados da UE, com contributos positivos da maioria dos grupos de produtos”, mencionou o boletim sobre as projeções da economia portuguesa. Entre os países europeus, Espanha lidera como principal destino, seguida pela Alemanha e a França.

Importância das Parcerias
Conforme apontado no estudo “O papel das parcerias na internacionalização das empresas portuguesas”, a internacionalização não é um processo que as empresas devem enfrentar isoladamente, numa postura de “orgulhosamente sós”. Num cenário de concorrência global cada vez mais competitivo, as alianças estratégicas tornam-se essenciais para o sucesso das empresas portuguesas ao expandirem-se para mercados externos. Neste contexto, a formação de parcerias estratégicas surge como uma ferramenta indispensável para lidar com os desafios da internacionalização. Um dos principais fatores apontados pelo estudo é a procura por competências complementares, que permitem às empresas ultrapassarem barreiras culturais, regulatórias e operacionais nos mercados de destino. Adicionalmente, as parcerias são mais frequentes em mercados emergentes, onde a incerteza e a complexidade incentivam as empresas a colaborarem com entidades locais. Este tipo de aliança facilita o acesso a redes de distribuição, conhecimento específico do mercado e recursos partilhados, reduzindo os custos e os riscos associados à expansão internacional.

Aceda também a este artigo na edição impressa ou online do Jornal das Oficinas nº221, aqui.