“O nosso crescimento está dependente da evolução das oficinas”, Rui Lopes, Escape Forte
Perto de completar 50 anos de existência, a Escape Forte assume-se como especialista na reparação de filtros de partículas e catalisadores, área em que foi pioneira em Portugal. O diretor-geral, Rui Lopes, recebeu-nos para uma conversa aberta sobre a evolução da empresa
Em março do próximo ano, a Escape Forte sopra as velas das bodas de ouro. A empresa foi fundada pelo pai do atual proprietário, Rui Lopes, e começou por ser uma oficina na Maia, onde o atual responsável explorava apenas a parte dos pneumáticos. Com o avançar da idade do pai, em 2008, Rui propôs comprar-lhe a empresa, para lhe dar novo rumo, pois, a seu ver, “fazia todo o sentido não estar agarrado a algo que o meu pai construiu”. Ainda assim, reitera, “a Escape Forte é mérito dele, que tinha uma paixão pela parte mecânica”.
Os passos seguintes foram dados “de acordo com aquilo que foi o desenvolvimento da mecânica”, diz, explicando que, “cedo percebi que queria desenvolver algo que me pudesse projetar de forma diferente daquilo que é ser mais uma oficina mecânica, queria algo mais. O meu pai faleceu em 2023, mas deixou legado, eu consegui dar seguimento a uma coisa que ele amava. Ele viveu para isto e eu também continuo a viver para isto. Acompanhou o procedimento, sempre com medo, pois era muita responsabilidade, muita correria e estava preocupado com a evolução, mas acho que no fim ele percebeu que o caminho era este e que estávamos bem estruturados, pois a empresa tem uma base sólida de pessoas”, considera.
O grande salto
O ponto de viragem, recorda Rui Lopes, foi em 2011, quando foi publicada a primeira reportagem sobre a Escape Forte no Jornal das Oficinas. “A partir daí, começámos a crescer e fomos obrigados a evoluir, porque tínhamos que ter capacidade de resposta. Hoje, vê-se muitos players nossos concorrentes que reparam ou limpam a peça e entregam-na ao cliente. Se funcionar, funcionou, se não funcionar, não têm que ver o que se passa. E nós trabalhamos de maneira diferente. Antes de intervirmos na peça, fazemos um diagnóstico e quase que prevemos qual é o problema que provocou aquela situação”, conta. As pessoas começaram a passar a palavra e a encaminhar outras oficinas e particulares para a Escape Forte, que ainda hoje continua a aprender: “os carros novos vêm cá parar, nós temos que estudar a situação e vamos evoluindo. A formação que as marcas nos passam é a nível de eletrónica, nós temos que desenvolver as técnicas e perceber quais são os componentes que constituem todo o sistema de escape, para fazermos um diagnóstico completo do problema. Para Rui Lopes, o sistema de escape “é das partes mais complexas que o carro tem, nos dias de hoje e, com a normativa Euro 6, será dos componentes mais complexos de solucionar e compreender.”
Evitar dar más notícias
O nosso entrevistado entende que “estamos a passar a pior fase técnica da história da Escape Forte nesta área dos filtros partículas, porque neste momento já saem carros a gasolina com filtros de partículas. Também o sistema de AdBlue é muito complexo e volátil, pois basta uma mudança de temperatura e o AdBlue cristaliza ou altera qualidades e danifica o processo todo. Hoje, o ar que sai de um escape é tão puro como o ar ambiente. Quando o sistema avaria, temos reparações a custarem 1.800, 2.200 e 2.500 euros. Temos um cliente que tem uma frota de táxis no Alentejo, cujo sistema de AdBlue se avariou e contaminou o filtro de partículas. A reparação ficava por 6.000 euros. O senhor vendeu os carros e comprou carros a gasolina”, nota, realçando as recorrentes problemáticas destes sistemas. Ainda assim, Rui Lopes lamenta que o assunto dos filtros de partículas ainda esteja envolto numa nuvem de desconhecimento e aponta o dedo às oficinas que contornam os problemas, em vez de ir à raiz dos mesmos, apenas para não perder clientes com reparações que viriam a ser muito dispendiosas. “Andamos na caça às bruxas e às vezes nem sequer é um problema do filtro de partículas, basta uma sonda que está fora de leitura e baralha tudo, é preciso dedicar muito tempo”, diz exemplificando: “Se o carro for de uma gestora de frota, esta faz uma gestão mais apertada, sabe que se não resolvermos agora, teremos de resolver mais à frente, e pode ficar mais caro, porque estamos a falar de reparações que podem ascender a algumas centenas de milhares de euros”.
O problema é quando se trata de veículos particulares e as oficinas “querem segurar o negócio e, para não dar a má notícia ao cliente, pegam pela ponta, em vez de ir ao início do problema. Nós reconstruímos o filtro de partículas, metemos um catalisador, mas é preciso resolver outro problema qualquer e nós é que somos o portador da má notícia. Essa é a parte que nos desgasta”. O diretor-geral da Escape Forte conta que se criam mesmo alguns constrangimentos com os profissionais das oficinas, porque a política da casa é transmitir-lhes que “ou o cliente faz tudo aquilo que nós aconselhamos ou então não fazemos o serviço”, assume. Outra das situações que o negócio dos filtros de partículas enfrenta, é a falta de controlo nos centros de inspeção, que possibilita ser cada vez mais habitual que os proprietários os eliminem do carro, para se esquivar a gastos maiores com a sua reparação. Rui Lopes considera que “se há uma isenção fiscal para viaturas com emissões bastante baixas, e se se retira o filtro de partículas, é óbvio que o carro vai poluir. E só aí já há uma fuga fiscal”, alerta.
Capacidade de resposta
A Escape Forte está dividida em vários departamentos: a oficina, a parte da logística, a parte técnica, o departamento comercial, o financeiro e a área administrativa. Hoje evidencia-se não só pela qualidade técnica, mas também pela capacidade de resposta a todas as solicitações, stock disponível e abrangente para grande quota do mercado automóvel nacional. O responsável enaltece a competência, compromisso e dedicação de todos os colaboradores. “Numa área de negócio onde o nosso sucesso não depende apenas de nós, toda a comunicação interna tem apenas um foco: o apoio ao cliente. Com as pessoas certas, o sucesso torna-se menos difícil.” Em todas as soluções a Escape Forte dá preferência ao material original ou matérias primas que garantam o sucesso, sendo as normas 5 e 6 mais exigentes na qualidade e dos materiais. “Estamos com todas as soluções, não existem peças impossíveis, se existe, a Escape Forte consegue clonar, com garantia” refere Rui Lopes, que entende que “continuamos a evoluir e a ter sucesso. Claro que vamos sempre dar naquele beco sem saída que é a decisão da oficina. Eu vendo o melhor bacalhau que existe no mercado, mas se o cozinheiro não prestar… a culpa não é do bacalhau, é do cozinheiro! E aqui é igual. Temos algumas oficinas que nos trazem bastantes constrangimentos, porque muitas vezes o mecânico, que não é o chefe da oficina, na sua boa fé tomou uma decisão que correu mal, mas que coloca em causa o nosso trabalho e a nossa imagem fica ferida por causa disso. O nosso problema maior é alterar este mindset de que o filtro de partículas é só obstrução”.
Para dar a volta a essa situação, Rui Lopes pretende… saiba a resposta na edição impressa do Jornal das Oficinas de abril/maio.