Portugal lidera eletrificação dos usados

07 - Portugal lidera eletrificacao dos usados

O mais recente relatório do Observatório INDICATA mostra que os veículos elétricos usados estão a transformar o mercado europeu, com Portugal na vanguarda

O mais recente relatório do Observatório INDICATA (Edição 65) comprova que a eletrificação está a reformular o mercado automóvel usado em toda a Europa. Os BEV matriculados em massa entre 2022 e 2023 acabam de ingressar no canal dos 3-4 anos, reforçando substancialmente a oferta elétrica, enquanto quase 70% dos automóveis diesel disponíveis já ultrapassaram os cinco anos.

Este afluxo de veículos elétricos e o recuo do diesel explicam a descida do Market Days’ Supply (MDS) médio para 77 dias nos veículos com até dois anos e para 45 dias nos de 3-4 anos. Mesmo os BEV, que anteriormente registavam valores de três dígitos, apresentam agora apenas um excesso de stock moderado. A normalização pós-COVID e pós-início da guerra na Ucrânia mantém as cotações dos motores de combustão relativamente elevadas, mas exerce pressão descendente sobre os preços dos BEV à medida que a oferta se expande.

No plano dos modelos, o Volkswagen Golf, o Peugeot 208 e o VW T-ROC lideram as vendas europeias até aos quatro anos, ao passo que o Mini Aceman e os Tesla Model 3 e Y apresentam a rotação mais acelerada, com MDS compreendido entre 27 e 36 dias. A Tesla e a Volkswagen disputam frequentemente as primeiras posições tanto em volume de vendas como em velocidade de rotação, enquanto a Toyota domina o segmento dos híbridos completos. Nos países nórdicos, metade dos usados muito recentes já é 100% eléctrica, evidenciando o ritmo vertiginoso da transição.

Esta dinâmica continental encontra em Portugal um reflexo ainda mais acentuado, mercê do pacote de incentivos de 2025, que conjuga subsídios directos, benefícios fiscais e bónus de abate. O programa impulsionou a quota de BEV nos ligeiros novos para além dos 20% e, no mercado de usados, traduz-se num salto notável da oferta eléctrica inferior a 2 anos, de 16% para quase 21% num único trimestre.

As vendas, contudo, situaram-se nos 12%, prenunciando maior pressão sobre preços e MDS no curtíssimo prazo. No segmento dos 3-4 anos, o desfasamento replica-se (17% de stock versus 11% de transacções), prolongando a trajetória descendente do índice de preços eléctrico.

Ao nível dos modelos, todavia, registam-se já os primeiros sinais de paridade de preços entre veículos eléctricos e os seus congéneres de combustão, fator que contribuirá para travar futuras depreciações. Mesmo no segmento com cinco ou mais anos, os BEV já superam 5% da oferta nacional, percentagem que ultrapassa mercados tradicionalmente “amigos dos elétricos”, como os Países Baixos, a Bélgica ou a Dinamarca.

Portugal assume igualmente a dianteira nos comerciais ligeiros: um em cada dez furgões novos é elétrico e, nos usados inferiores a 2 anos, os BEV representam mais de 15% da oferta e mais de 12% das vendas, preservando o MDS equilibrado em 111 dias. Nos ligeiros de passageiros até quatro anos, destacam-se nas vendas o Peugeot 2008, o Renault Captur e o Renault Clio, enquanto o Hyundai Bayon, o VW Passat e o Toyota Yaris Cross registam a rotação mais célere, com MDS situado entre 37 e 41 dias.

Perspetivas

“A convergência europeia rumo à electrificação encontra-se bem consolidada, mas a sustentabilidade desta tendência dependerá da capacidade de harmonizar a procura com o fluxo crescente de BEV usados. Em Portugal, a continuidade dos apoios, a expansão da rede de carregamento e a confiança do consumidor constituirão factores determinantes para absorver um stock que cresce a ritmo sem precedentes, mitigando pressões adicionais sobre preços e MDS”, afirmou Andy Shields, diretor global do INDICATA.