67,1% dos automóveis ligeiros usados em Portugal são internacionais
Ao longo dos anos, a Alemanha tem vindo a tornar-se local de eleição para a compra de automóveis usados. De acordo com a Autoridade Federal de Transportes Motorizados da Alemanha, todos os anos, cerca de 2 milhões de automóveis alemães usados são registados noutros países. Em alguns Estados-Membros, a percentagem de carros usados importados da Alemanha ultrapassa os 50%. Especificamente em Portugal, a ACAP indica que 67,1% dos automóveis ligeiros usados, matriculados em 2022, foram importados da UE, sendo a Alemanha uma das principais fontes de importação
Os sites de classificados mais populares da Alemanha listam milhões de veículos, pelo que a gama de automóveis à venda é mais vasta do que em qualquer outro lugar do continente. No entanto, alguns dos veículos que aparecem nestes anúncios podem ser de outros países.
Informações da carVertical, empresa de históricos automóveis, sugerem que 4,3% dos carros à venda na Alemanha podem nunca ter visto as estradas de Berlim, Munique ou Hamburgo, nem as icónicas autoestradas germânicas. Esses automóveis podem ter origem noutros países.
Antes de serem importados para venda na Alemanha, esses veículos eram, maioritariamente, de Itália (16,6%), França (12,7%), dos EUA (10,6%), da Bélgica (9,1%) e da Roménia (5,1%).
Em vez de adquirirem um automóvel alemão, os compradores arriscam-se a comprar um veículo importado de outro país. Se o vendedor esconder o país de origem do automóvel, este pode não estar nas melhores condições. Aliás, as reparações de baixa qualidade, a elevada quilometragem e os danos ocultos são razões comuns para os vendedores tentarem ocultar o passado do veículo e vendê-lo noutro país. Como os países não costumam trocar informações sobre o histórico dos automóveis, pode ser difícil detetar estas fraudes.
“Cerca de 4,3% dos automóveis registados na Alemanha têm informações registadas em países estrangeiros. Reparámos que as pessoas vendem modelos caros na Alemanha, mas os nossos registos sugerem que muitos deles nunca foram utilizados no país. Isto cria a ilusão de que se está a comprar um carro alemão bem tratado, quando na realidade é importado de Itália, França ou Roménia”, explicou Matas Buzelis, Diretor de Comunicações e especialista em automóveis da carVertical.
Porque é que os compradores e vendedores portugueses se sentem atraídos pelo mercado alemão?
Segundo Buzelis, com a escassez de automóveis novos, a oferta de modelos de alta qualidade no mercado de automóveis usados pode ser limitada. É por isso que alguns vendedores tentam negociar os seus veículos na Alemanha, porque o país tem um público mais vasto. Se alguém não consegue vender o seu automóvel na República Checa ou na Roménia, pode tentar fazê-lo noutro local.
A Alemanha tem uma reputação de atrair compradores de automóveis de diferentes países europeus. Como o mercado português de carros usados tem crescido nos últimos anos, não é de surpreender que os carros alemães se tenham tornado uma opção bastante procurada.
Quando se analisa as importações de automóveis novos e usados em Portugal, verifica-se que são os mais abundantes – a Alemanha totalizou 1,22 mil milhões de euros, de acordo com a OEC.
Os compradores portugueses podem optar por esta via por várias razões, sendo o preço um dos principais motivos. Os atrasos na produção de automóveis novos devido à escassez de peças automóveis também podem ter um efeito significativo. Ainda no ano passado, a escassez mundial de semicondutores provocou um aumento das importações de veículos usados para Portugal.
Importar um carro também é uma boa opção para quem procura uma marca ou modelo específico que não esteja disponível em Portugal. Existe ainda um mito generalizado de que os condutores na Alemanha compram carros mais recentes, mais bem equipados e mais caros, e que seguem rigorosamente as recomendações de manutenção dos fabricantes. Na realidade, estes clichés podem induzir as pessoas a adquirir automóveis sem consultarem o historial do veículo ou um mecânico certificado.