Pós-venda Pesados: setor em consolidação e crescimento!
O mercado pós-venda de veículos pesados em Portugal tem vindo a afirmar-se como um exemplo de organização, profissionalismo e sustentabilidade. Longe de apresentar uma estrutura fragmentada e improvisada, como acontece em alguns mercados europeus, Portugal apostou num modelo sólido, tecnicamente especializado e com uma operação estável
A maturidade do setor reflete-se não apenas na sua estrutura, mas também na rentabilidade das empresas e na crescente qualificação da oferta. Num mercado cada vez mais competitivo, este setor assume um papel decisivo na rentabilidade e fiabilidade das frotas. Neste artigo, falamos com alguns dos protagonistas do mercado, para saber quais os modelos que lideram as vendas, as mais recentes inovações em motores e sistemas de assistência à condução, assim como as perspetivas das marcas relativamente à situação atual do mercado.
Depois de um forte crescimento registado em 2023 e 2024, o setor dos veículos pesados em Portugal vive uma fase de ajustes. Em linha com a tendência europeia, o primeiro semestre de 2025 revelou sinais de retração, muito por conta de alguns constrangimentos em alguns setores industriais relevantes que não têm estimulado os indicadores de procura. Questionámos os responsáveis de algumas das marcas de veículos pesados presentes em Portugal, para saber como analisam este momento e, se, por um lado, há quem acredite num final de ano mais positivo, por outro, há também quem não veja com bons olhos a tendência decrescente que se tem vindo a verificar.
Numa altura em que a transição energética está na ordem do dia e é preciso descarbonizar os transportes, há mudanças a ocorrer no setor dos pesados, com muitos a apresentar soluções inovadoras não só no que diz respeito à pegada de carbono, como também com foco na redução de consumo de combustível. A sustentabilidade anda hoje de mãos dadas com a eficiência, que surge como argumento importante para os transportadores que precisam de ter o camião operacional o máximo de tempo na estrada. Com a rentabilidade das suas empresas a depender cada vez mais da do próprio camião, os empresários estão atentos às ofertas de serviço de assistência disponibilizadas pelas marcas e assinam contratos de manutenção feitos à medida das suas necessidades, para garantir que o número de avarias é reduzido e que, quando estas acontecem, estão resolvidas no mais curto espaço de tempo possível.
Rede de oficinas: profissionalização e capilaridade
Segundo o estudo da IF4, Portugal conta com 103 oficinas oficiais ligadas às principais marcas de pesados, resultado direto do facto de uma parte significativa das aquisições de veículos ser feita com financiamento, obrigando à manutenção e reparação em oficinas autorizadas para manter a validade das garantias. Complementando esta rede oficial, destacam-se redes independentes como a Top Truck (23 centros) e a AllTruck (15 centros), que se impõem pela sua qualidade técnica e implantação geográfica, com presença nacional e internacional — fator essencial num setor em que os veículos estão em constante deslocação.
Embora seja difícil contabilizar com precisão o número de oficinas independentes especializadas em pesados, estima-se que existam cerca de 400, muitas das quais também prestam serviços a veículos ligeiros, máquinas agrícolas ou carroçarias. Este número deve ser avaliado tendo em conta a relevância das oficinas de marca e das oficinas internas das transportadoras — 60% das 300 maiores empresas de transporte têm oficinas próprias, orientadas para a manutenção preventiva das suas frotas.
Momento de retração
Não é novidade que, depois de uma conjuntura pós-covid de «alguma bonança», 2025 chegou com números bastante diferentes dos dois anos anteriores. Catarina Martins, Head of Marketing da Mercedes-Benz Trucks Portugal, refere os dados da ACAP, que apontam para uma queda homóloga de 22,4% no primeiro semestre de 2025, com 2.613 unidades matriculadas. Apesar disso, a responsável acredita na recuperação no segundo semestre: “Prevê-se uma tendência positiva para o último trimestre do ano, impulsionada por uma retoma gradual da confiança dos clientes e pelo reforço dos investimentos em soluções mais eficientes e sustentáveis”, indica, ao contrário de Pedro Oliveira, CEO da Nors Trucks and Buses Portugal, representante exclusivo da Volvo Trucks, que está menos otimista face ao futuro, explicando que “o mercado de veículos pesados registou um crescimento significativo em 2023 e 2024, aproximando-se dos valores observados antes da pandemia. Contudo, os números relativos à primeira metade de 2025 revelam uma quebra face ao ano anterior, não se antecipando uma inversão desta tendência para os próximos meses”.
Já Magno Mendes, diretor comercial da IVECO Portugal, vê o momento de forma positiva. “A verdade é que existem apenas duas marcas a crescer a quota de mercado em relação ao ano anterior, uma delas somos nós e estamos muito orgulhosos disso. Embora o mercado no seu todo esteja a decrescer, nós estamos a conseguir dar a volta a este decréscimo e sedimentar a nossa posição. É para nós uma verdadeira vitória”, assume. De outro ponto de vista, Bruno Oliveira, CEO da Ford Trucks Portugal, alerta para a necessidade de cautela, notando que “a carteira de encomendas está a diminuir em relação aos anos anteriores, pelo que a taxa de esforço para fechar negócios é maior e teremos de ser mais criativos e dinâmicos para atingir os objetivos”. O mesmo recorda que “grande parte dos veículos matriculados este ano são consequências de negócios efetuados no ano passado” e salienta que são desafios que é preciso “saber antecipar, gerir com resiliência e transformar em oportunidades, para continuar a crescer de forma sustentável e competitiva”.
Da parte da MAN Truck & Bus Portugal, Luís Pereira, responsável de Marketing e Produto, destaca que “o mercado nacional tem mostrado sinais de recuperação e adaptação, apesar de alguns desafios estruturais, como o aumento dos custos operacionais, a escassez da mão de obra qualificada ou as exigências ambientais cada vez maiores. No entanto, também vemos uma forte vontade de evolução. Há uma aposta clara na transição energética, na digitalização e na procura por soluções mais sustentáveis e eficientes e é exatamente nessas áreas que temos vindo a centrar o nosso investimento”, revela.
Mais do que a entrega de um veículo
Se há uma convicção comum a todos os entrevistados, é a de que a rentabilidade de um veículo pesado já não se mede apenas pelo consumo ou pelo preço de aquisição. Hoje, mais do que nunca, mede-se pelo conjunto de serviços que acompanha o camião, pela capacidade de prevenir avarias, pela velocidade com que se resolve um problema e pela previsibilidade dos custos ao longo de toda a vida útil do veículo. Pedro Oliveira, da Nors Trucks and Buses Portugal, sublinha a importância desta visão integrada: “A Nors assegura os serviços de assistência pós-venda definidos pelo fabricante, distinguindo-se no mercado pela excelência e caraterísticas únicas. A elevada experiência e qualificação dos técnicos são um fator determinante, assim como a disponibilidade permanente dos serviços de assistência (24 horas por dia, 7 dias por semana), apoiada por uma rede de concessionários e oficinas autorizadas. A gestão logística de peças e componentes permite ainda responder a cerca de 98% das solicitações em menos de 24 horas”, afirma, esclarecendo que “a rede de concessionários da marca Volvo Trucks disponibiliza também uma gama de soluções para a contratualização dos serviços de assistência pós-venda. Um Contrato de Serviço oferece aos operadores de transporte uma gestão e acompanhamento integrado das necessidades de manutenção dos veículos, permitindo uma maior previsão dos custos”.
No caso da IVECO, a lógica de proximidade e personalização é levada muito a sério. Magno Mendes, diretor comercial, explica que o objetivo é que cada operador de transporte sinta que o contrato de manutenção foi feito à sua medida: “Conseguimos ter desde o contrato mais básico, que engloba apenas manutenção programada, e ir subindo os vários patamares até chegarmos a um contrato mais completo, que é o 3XL, onde temos a manutenção programada, a cobertura de todas as possíveis avarias de cadeia cinemática, extra cadeia cinemática, incluindo também os desgastes. Os nossos contratos são altamente parametrizados e dimensionados às necessidades do cliente”, assegura, contando que, neste momento tem uma campanha em vigor na qual o cliente, “com o valor acordado entre as partes, pode usufruir de um contrato de manutenção até 1 milhão de quilómetros, escolhendo a duração em que quer consumir esses quilómetros, desde os 68 meses até os 92 meses”.
A Mercedes-Benz Trucks segue a mesma lógica da adaptação dos contratos de manutenção às necessidades dos clientes, com Catarina Martins a explicar que estes podem optar “desde o Mercedes-Benz Trucks Best Basic, que inclui os serviços de manutenção de série com peças originais, até ao Mercedes-Benz Trucks Complete, o contrato de serviço completo para cobertura total (manutenção, reparações, desgaste, assistência 24h) e que oferece também o serviço Mercedes-Benz Uptime – que monitoriza continuamente e em tempo real o estado técnico do camião, identificando falhas potenciais e enviando recomendações imediatas para evitar paragens imprevistas”. O fabricante tem uma rede de oficinas autorizadas Mercedes-Benz Trucks, tanto em Portugal, como nos restantes países da Europa, oferecendo uma gama completa de serviços pós-venda.
Além dos já mencionados, destaque para “a gama de Serviços Digitais, que visam aumentar a eficiência, segurança e rentabilidade da operação dos camiões, como o Mercedes-Benz TruckLive, para monitorizar continuamente o estado do veículo, planear manutenções com base em dados reais, realizar atualizações remotas de software (Over the Air), receber assistência digital rápida, controlar funções do camião remotamente e receber alertas de trânsito e perigos em tempo real — tudo para garantir maior eficiência, segurança e disponibilidade da frota”, diz a responsável, que não deixa de indicar que a marca conta com assistência 24h, “que garante apoio técnico rápido em caso de avaria; e o novo Service24h Connected, que permite aos clientes registados comunicar avarias online através do portal My TruckPoint, com os dados do veículo já preenchidos automaticamente, acelerando a resposta e facilitando uma intervenção mais eficiente”. A Mercedes-Benz disponibiliza além das peças originais, peças recondicionadas (reman), com garantia de qualidade da marca, aposta na “formação técnica específica para frotas e motoristas (para viaturas com motor de combustão e elétricos), desenhada para maximizar a eficiência operacional das frotas. Esta formação promove práticas de condução orientadas para uma utilização otimizada dos sistemas de segurança, contribuindo simultaneamente para a redução do consumo de combustível e do desgaste dos veículos”.
Manter os veículos sempre em movimento é uma preocupação clara da MAN Truck & Bus, cujo compromisso com os clientes “vai muito além da entrega de um veículo” e Luís Pereira sublinha que “trabalhamos todos os dias para garantir que as viaturas estão sempre operacionais, com o menor tempo de paragem possível”. No que toca às soluções pós-venda, enumera “o MAN ServiceCare, com planos de manutenção modulares e gestão preditiva, para que nada fique ao acaso; o MAN Mobile24, um serviço de assistência em estrada disponível 24 horas por dia, 7 dias por semana, em toda a Europa; os MAN DigitalServices, a plataforma digital que permite acompanhar, em tempo real, o estado das viaturas, planear manutenções e otimizar a gestão da frota; a disponibilização de peças originais MAN e da linha MAN Ecoline, uma alternativa mais sustentável e económica e ainda formação especializada para motoristas e equipas técnicas, focada em boas práticas de condução e manutenção. Tudo isto faz parte de um ecossistema de suporte pensado para manter os veículos sempre em movimento, reduzir os custos operacionais e dar tranquilidade aos nossos clientes”, comenta.
Presente há menos tempo no mercado nacional, a rede de assistência da Ford Trucks “tem vindo a crescer de forma a atingir uma cobertura total do território e assim responder de forma eficaz aos nossos clientes. Recentemente abrimos o nosso 9º concessionário, em Vila Nova de Gaia, que se junta a Alverca do Ribatejo, Albergaria-a-Velha, Loulé, Meirinhas – Pombal, Vilar do Pinheiro, Viseu, Braga e Funchal, na Madeira. Oferecemos contratos de manutenção e reparação adaptados às necessidades de cada cliente e apostamos fortemente nos recursos humanos, e por isso temos uma equipa completamente integrada e dedicada, o nosso CLT – Customer Loyalty Team, que nos permite manter um contacto próximo e proactivo que garante que cada cliente tem uma linha direta de apoio e resolução das suas necessidades”, diz o CEO, Bruno Oliveira.
Rentabilidade como fator preferencial
Seja qual for o segmento de mercado, a rentabilidade é assumida como o argumento preferencial das marcas. Luís Pereira, da MAN Truck & Bus refere que “o TGX continua a ser o modelo que mais se destaca, sobretudo nas versões de longo curso. Os nossos clientes valorizam a fiabilidade, a eficiência no consumo e o conforto”. Por outro lado, destaca também a gama TGS, “que mantém uma procura constante, especialmente na distribuição regional e no setor da construção, onde a robustez e a versatilidade fazem a diferença”. O investimento da marca em soluções que tornam os veículos mais eficientes e seguros é contínuo e a grande novidade é o motor D30 PowerLion, que reduz o consumo até 4%, “contribuindo para operações mais sustentáveis e económicas, sem comprometer a potência e fiabilidade”. O responsável aponta ainda as tecnologias que facilitam a condução e aumentam a proteção de todos os que estão na estrada, como o Cruise Assist, o Turn Assist ou o Lane Return Assist.
Na Ford Trucks, o modelo mais vendido em Portugal “é o trator F-MAX 500, havendo também uma procura crescente pelos modelos de construção, nomeadamente o 3542D e o 4142D e os veículos 1833D para o ambiente”, diz-nos Bruno Oliveira que acrescenta que a marca “tem investido fortemente em inovação, tanto a nível de design, aerodinâmica e da cadeia cinemática, o que resulta na otimização dos consumos e redução das emissões de CO2. Temos melhorado significativamente os sistemas de apoio à condução que não só contribuem para a segurança do condutor mais também para uma experiência de condução mais confortável e económica. Destes, destacamos os espelhos digitais e a funcionalidade de auto-panning e sentinel, sistema de alarme anti-roubo quando o condutor descansa na cabina”.
Atualmente, na Volvo Trucks, “o modelo mais vendido é o Volvo FH 4×2 Tractor, destinado ao transporte internacional de mercadorias. Distingue-se pela eficiência, conforto, segurança e fiabilidade – caraterísticas únicas que fazem com que o Volvo FH seja uma opção privilegiada pelas transportadoras”, revela Pedro Oliveira, que considera que a marca se mantém “na vanguarda da inovação no setor do transporte rodoviário pesado, apostando de forma consistente no desenvolvimento de tecnologias que promovem operações mais sustentáveis e eficientes. A prova disso está na gama de veículos 100% elétricos, que já cobrem toda a sua gama, e nas soluções LNG (Gás Natural Liquefeito), igualmente consolidadas no mercado”. No que toca à evolução tecnológica, o CEO da Nors menciona as novas Aerocabs, a introdução das câmaras CMS (Camera Monitoring System), que substituem os tradicionais espelhos retrovisores convencionais e a constante evolução dos sistemas de cruise control preditivo, com a “Volvo Trucks a reforçar o seu papel como marca de referência no desenvolvimento de soluções de transporte mais eficientes e sustentáveis”.
Já a IVECO dispõe “do campeão de vendas S-WAY, trator de longo curso, com motor de 500 cv, que designamos por AS440S50T/P, bem como do X-Way, que é um misto entre uma viatura de estrada e fora de estrada e depois temos o nosso puro fora de estrada, que é o T-WAY, diz-nos Magno Mendes. O Diretor Comercial da IVECO Portugal releva o “motor X-Cursor 13, com novas gamas de potência, começando nos 460 cv, depois 500 cv e a potência mais elevada, o 580 cv. Este motor tem uma redução de consumo, que em conjunto com outras funcionalidades da viatura, é de até 10% em relação à geração anterior. Em relação aos sistemas de apoio à condução, cumpre com todas as regras e a legislação imposta no GSR2. Temos todo o tipo de assistência que o motorista precisa para desempenhar a sua atividade laboral da melhor forma”, garante.
Por seu turno, a Mercedes-Benz Trucks apresenta uma vasta gama de camiões, seja para o transporte de longa distância, em estaleiros de construção ou distribuição, oferecendo soluções para as operações dos nossos clientes, dos quais se destacam os seguintes modelos: Actros L com a nova ProCabin e um design aerodinâmico que “permite uma menor resistência ao ar (até -3% de consumo face à geração anterior). A terceira geração do motor OM471 reconhecido pelo baixo consumo de combustível, em combinação com a nova caixa de velocidades G291, proporciona uma poupança adicional de até -4% no consumo de combustível; o Arocs, vocacionado para a construção pesada, betão e aplicações fora de estrada; o Atego, para distribuição urbana/regional e pequenas obras; o Econic, desenvolvido para a recolha de resíduos e limpeza urbana; o Unimog, um veículo porta-equipamentos e ainda, no segmento dos veículos elétricos, o eActros 600, vencedor do prémio Internacional Truck of the Year 2025, com uma autonomia de até 500 km e preparado para o carregamento rápido Megawatt Charging <30 min (20→80 %), o eActros 300/400, as soluções elétricas para a distribuição regional pesada, 4×2 ou 6×2, com uma autonomia de até 300 e 400 km receptivamente e baterias de 336 kWh (300) ou 448 kWh (400) e o eEconic, que oferece uma operação silenciosa e zero emissões. Graças a esta oferta, a Mercedes-Benz cobre a totalidade das necessidades dos clientes portugueses, desde a distribuição urbana zero-emissões ao transporte internacional de longa distância”, explica Catarina Martins, que salienta que a marca “representa um símbolo de qualidade premium há mais de 100 anos. Representa fiabilidade e eficiência económica, bem como qualidade de produto e serviço de primeira classe e uma vasta experiência na área de soluções de transporte orientadas para o cliente. Para tal, a marca tem investido, de uma forma continuada, em tecnologias que promovem a eficiência, segurança e conforto”, quer seja em motores e eficiência, como em sistemas de segurança avançados ou conetividade e conforto.
Um setor com futuro: Fique a par deste sub-título e de muito mais, na edição impressa ou online do Jornal das Oficinas nº224, aqui.