Estudo de Canais GiPA 2024: Mercado em transformação!
O Estudo de Canais GiPA 2024 traça o comportamento dos profissionais da reparação em Portugal, desde concessionários, oficinas independentes, de colisão e pneus, nova distribuição e lojas de peças. Os resultados revelam que os veículos com 15 ou mais anos pesam mais de 37% no parque circulante, enquanto os veículos eletrificados já representam mais de 40% no parque até 3 anos de idade. O diesel caiu drasticamente nos novos registos atingindo o mínimo de 12% em 2023
O aftermarket em Portugal tem-se destacado como um exemplo pujante de resiliência e inovação, adaptando-se às novas realidades tecnológicas e ambientais, alinhando-se assim com as tendências globais e as expetativas dos consumidores. Numa era onde a eletrificação dos veículos e a consciência ambiental ganham terreno, este setor mostra-se não só recetivo, mas também proativo na incorporação destas mudanças. A formação especializada torna-se um pilar fundamental neste processo, preparando os profissionais para os desafios técnicos dos novos veículos com zero emissões e mais amigos do ambiente, do que as outras alternativas. A capacidade demonstrada pelas oficinas, num período de grandes transformações em todo o setor automóvel, tem sido determinante para o êxito verificado no pós-venda em Portugal nos últimos anos.
Não obstante, se tomarmos como base a evolução a que se assistiu no segmento do pós-venda, há que ter em conta tendências que deverão acentuar-se de forma significativa nos próximos anos e que seguramente terão forte impacto em todo o modelo de negócio. Desde logo o tema da digitalização, que irá cada vez mais evidenciar-se num setor tradicionalmente envelhecido. A vaga de modelos eletrificados irá continuar o seu caminho de chegada ao setor pós-venda, quer seja na abertura de oficinas especializadas em viaturas usadas eletrificadas, quer na sua entrada cada vez mais frequente nas oficinas dessas viaturas, para manutenção e reparação. Aquilo que é hoje um nicho de negócio para o pós-venda independente, tenderá a ser incontornável para os seus operadores nos próximos 10 ou 15 anos. O nível de complexidade e sofisticação dos veículos eletrificados, bem como toda a evolução natural da própria indústria tecnológica centrada na eletrónica automóvel, vai exigir cada vez mais uma requalificação de competências técnicas dos profissionais do setor, assim como ao nível da gestão oficinal com ferramentas tecnológicas adequadas.
O fenómeno das viaturas conectadas tenderá a mudar de forma absolutamente radical alguns dos atuais conceitos de manutenção e reparação. A possibilidade de, tanto os fabricantes, como os reparadores (Oficias e Independentes), terem acesso às viaturas de forma remota e efetuarem operações de reparação e manutenção, que são hoje já uma realidade, desafiam toda a forma como encaramos o negócio do pós-venda. Este é um fenómeno que está hoje em curso, tendendo a crescer de forma exponencial num futuro muito próximo.
Sustentabilidade ganha importância
A inovação no aftermarket não se restringe apenas à esfera tecnológica. As práticas sustentáveis têm ganhado uma importância crescente, refletindo-se na gestão eficiente de resíduos e na adoção de estratégias alinhadas com a economia circular. Tais iniciativas são consonantes com os objetivos nacionais de neutralidade carbónica e demonstram o compromisso deste setor com um futuro mais sustentável. O aftermarket tem acompanhado as alterações nos padrões de consumo e às expetativas digitais dos consumidores, e tem abraçado novas formas de interação e de prestação de serviços. Esta visão permite não apenas uma resposta eficaz às exigências atuais, mas também um posicionamento estratégico face às tendências futuras. Nesta procura de redução das emissões e resíduos, as peças reconstruídas e usadas vão ter cada vez mais peso no negócio da reparação automóvel. Muitos fabricantes já têm unidades fabris especializadas na remanufactura e reconstrução de peças.
Quanto ao uso de peças usadas, a recomendação para as empresas do canal independente do aftermarket é a alteração da atual situação de um peso residual destas no negócio do aftermarket, desenvolvendo uma aposta na oferta de peças usadas, dada a elevada disposição do grosso dos clientes que constituem o seu mercado futuro (os clientes com menos de 30 anos hoje e que, na sua grande maioria, possuem marcas generalistas) para adquirir este tipo de peças. A sustentabilidade ambiental para a qual o setor do aftermarket deve contribuir de uma forma cada vez mais acrescida, é outra razão que também justifica a maior atenção a dar às peças usadas. Em relação à aquisição de peças online parece haver alguma desconfiança por parte dos clientes, a qual perdurará para o futuro. Vai acontecer a diminuição do número total de operações do aftermarket, decorrente da eletrificação dos veículos, a qual ocorre fundamentalmente à custa das reparações (onde se regista uma diminuição de 12%, no cenário mediano), as quais são menos necessárias nos veículos elétricos (os componentes de um VE são menos e necessitam de menos reparações.
As grandes linhas de força para o futuro do canal independente do aftermarket devem centrar-se: Conjugação dos serviços de manutenção/reparação aos veículos de combustão com a entrada gradual dos serviços de manutenção/reparação aos veículos elétricos; Investir na formação dos colaboradores, capacitando-os para a manutenção/reparação dos veículos elétricos; Garantir a mobilidade dos clientes durante o tempo da manutenção/reparação dos seus veículos; Aproveitar a eletrificação dos veículos para aumentar a contribuição do setor para a sustentabilidade ambiental; Pressionar as autoridades competentes no sentido da criação de legislação que permita a existência de uma concorrência justa e aberta entre todos os players do aftermarket.
Também poderá aceder a este artigo na edição impressa ou online da Revista TOP100 Oficinas 2024, aqui.