Fórum anual da DPAI/ACAP reúne fabricantes e distribuidores
No Fórum anual da DPAI/ACAP, que decorreu no dia 24 de novembro na sede da ACAP, o presidente Joaquim Candeias falou sobre os temas quentes atualmente em debate a nível europeu
Numa apresentação clara e concisa, Joaquim Candeias explicou aos presentes o trabalho que tem vindo a ser feito no sentido de assegurar e fortalecer o aftermarket independente. São, essencialmente, cinco pontos que devem ser acautelados para que todos os players, quer OEM como IAM, possam ter um acesso indiferenciado ao negócio, sem restrições ou bloqueios. Está em causa o acesso remoto aos dados e recursos do veículo; a certificação e homologação de peças; o Regulamento MVBER; a cibersegurança e, por fim, mas não menos importante, a sustentabilidade.
Acesso aos dados do veículo
O primeiro tópico abordado na apresentação foi a necessidade de ter acesso bidirecional aos veículos. O acesso aos dados dos veículos tem como objetivo melhorar o serviço para consumidores e proprietários de veículos na Europa através de:
– Criação de um Mercado Único Digital Europeu para serviços do setor automóvel;
– Permitir a escolha de serviços a instalar, com acesso aos dados decidido pelo proprietário;
– Garantir aptidões/direitos iguais para todos os prestadores de serviços;
– Aptidão/capacidade de inovação e criação de novo valor para todos.
Por um lado, é importante que o condutor possa interagir com o software através da máquina, com recurso a aplicações, “uma arquitetura com base «sandbox», onde o utilizador tem bastante controlo, autonomia e poder de decisão”, explicou Joaquim Candeias.
Certificação/homologação de peças
Com os fabricantes de automóveis a procurar cada vez mais centralizar o negócio perto de si e controlá-lo, nasce a necessidade de certificação/homologação das peças que sejam montadas nos veículos.
Estas peças devem ter um código QR que o veículo consiga ler e que reconheça de modo digital que foram montadas. Segundo Joaquim Candeias, é preciso que esta certificação exista não só por parte dos fabricantes de automóveis, como dos fabricantes de aftermarket que, “na grande maioria são de primeiro equipamento também”.
Ou seja, o construtor de automóveis deve homologar as peças fabricadas por terceiros, para que os fabricantes externos à marca possam também construir e comercializar as suas peças. Tecnicamente, a peça tem de ser específica e deve fazer-se acompanhar de informação que torne a sua aplicação fácil.
MVBER (Motor Vehicle Block Exemption Regulation)
O Regulamento existe desde 2002, foi renovado em 2010, com extensão de 2023 a 2028. Basicamente este é um Regulamento que confere a possibilidade de intervencionar o veículo desde o quilómetro zero, sem perder a garantia do fabricante. “A falta de conhecimento dos clientes é enorme, sendo impressionante a ignorância dentro do setor”, lamenta o presidente da Divisão do Pós-venda Automóvel Independente da ACAP.
Continua a haver dificuldades no acesso à informação para a reparação, com elevados custos e consideráveis atrasos. Sem uniformidade nos conteúdos fornecidos do RMI (Informação à Manutenção e Reparação), entre países e marcas. Os planos de manutenção incluídos nos contratos de venda dos veículos novos têm aumentado o tempo de duração, atingindo agora sete anos ou mais.
Cibersegurança na cadeia de mobilidade
O aftermarket precisa de um desenvolvimento seguro, onde a instalação e ativação de peças seja possível via ferramentas de diagnóstico multimarcas. Na prática precisa de informação de compatibilidade e interoperabilidade do fabricante do veículo.
O aftermarket também precisa ser reconhecido como parte legítima/autorizada e como interveniente seguro na reparação e no ecossistema da mobilidade. Necessita de mais colaboração por parte dos fabricantes de veículos no apoio à implementação da cibersegurança.
Sustentabilidade no aftermarket
Foi criado o FAAS (Forum on Automotive Aftermarket Sustainaibility), com a presença de diversas federações, além das promotoras FIGIEFA e CLEPA, como a americana AUTOCARE, a FIA, a ETRMA, a AIRC, ou a APRA que pretendem defender adequadamente a sustentabilidade dentro do setor automóvel independente.
Este Fórum quer acompanhar o setor automóvel e independente na sua transição, através da união conjunta de todos os players, para se alcançar um mercado de pós-venda independente sustentável e garantir a continuidade do negócio. É vital impulsionar a mudança da cadeia de distribuição do pós-venda independente pela alta qualidade de sinergias, criar soluções para questões globais, como mudanças climáticas, a transição de energias, para baixar o CO2 e eliminar cada vez mais resíduos e enfrentar a falta de conhecimento do próprio setor e fornecer as ferramentas necessárias para que as empresas possam evoluir nesta área.
Motordata disponível para o pós-venda
António Cavado, responsável pelo departamento de estatísticas da ACAP anunciou o lançamento da plataforma Motordata para o pós-venda. A partir de agora as empresas aftermarket podem ter acesso a dados estatísticos da atividade do setor, comparar os resultados com a média do mercado, analisar o desenvolvimento das vendas, entre muitas outras funcionalidades.
Zorro Mendes, professor do ISEG, apresentou os objetivos e estrutura de um trabalho que está a realizar sobre a caracterização do aftermarket em Portugal. Com este trabalho, o professor pretende perspetivar a evolução futura da procura dirigida ao canal independente do pós-venda automóvel, em função das inovações tecnológicas no setor automóvel e das alterações nas preferências dos clientes. A informação recolhida para o estudo é resultado de dois inquéritos realizados às empresas do canal independente do aftermarket e aos consumidores.
O Fórum terminou com as apresentações das diversas Comissões Especializadas da DPAI/ACAP.