Oportunidade ou ameaça?

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Os sistemas ADAS estão a tornar-se cada vez mais importantes na forma como os veículos são controlados e isto abre uma série de novos desafios no setor de reparação independente e na sua capacidade de trabalhar nesses sistemas

Em teoria, os sistemas ADAS não são diferentes de outros sistemas controlados eletronicamente no veículo em que usam sensores, funções de controlo e acionadores para certificar-se de que os sistemas no veículo funcionam corretamente, mas é o resultado destes aspetos combinados que cria a questão chave para as oficinas independentes conseguirem trabalhar nos mesmos. Até agora, estes sistemas têm sido concebidos para dar assistência ao condutor, mas cada vez mais, estão a estabelecer um controlo mais direto sobre a forma como um veículo reage a determinadas situações. No caso de avaria do sistema o problema fundamental é o da responsabilidade. O fabricante de veículos precisa de garantir que os sistemas ADAS instalados nos veículos funcionam corretamente, e que em caso de avaria são reparados de forma correta e os sensores são recalibrados adequadamente. Infelizmente, isto levanta toda uma série de questões.

Responsabilidade direta pelo produto
Os fabricantes de veículos alegam que têm uma responsabilidade direta sobre o produto ao longo da vida do veículo e que estes sistemas possuem um impacto direto no controlo e segurança do veículo, que apenas os seus serviços de reparação autorizados (concessionários) deveriam ser autorizados a trabalhar nestes sistemas para assegurar que são reparados corretamente e que o fabricante do veículo sabe quem fez o trabalho, em caso de eventual anomalia.

Além disso, os fabricantes de veículos estão também a reivindicar que apenas as suas peças originais possam ser usadas, e estão a começar a solicitar um código para estas serem “ativadas” e configuradas no sistema ADAS correspondente. Este código está apenas a ser disponibilizado aos seus concessionários. Alguns fabricantes de veículos foram mais longe e reclassificaram estes componentes ADAS como peças de “segurança” que restringe mais o acesso a operadores independentes. Estas peças passam assim a ser consideradas parte do “sistema de gestão de cibersegurança” do fabricante automóvel, facto que permitirá aos fabricantes de veículos implementar a sua própria classificação de cibersegurança.

Embora a classificação de “segurança” constitua diretamente uma ameaça às oficinas independentes, poderá haver também um requisito para que peças de reposição não OEM (aftermarket) necessitem de homologação, o que não seria um problema se existissem métodos de teste para homologação, mas na maioria dos casos, não existem, então a testagem torna-se muito difícil e dispendiosa, restringindo a escolha de peças que podem estar disponíveis no futuro.

Competência e rastreabilidade
Perante as ameaças de não poderem dar assistência a veículos equipados com sistemas ADAS, é importante que alguém faça algo de facto para desafiar estas restrições. Esse é o papel das várias associações aftermarket, nomeadamente a FIGIEFA, que defende a liberalização total do setor pós-venda, permitindo o acesso das oficinas independentes aos componentes homologados e certificados pelos fabricantes de veículos. O setor pós-venda independentes deve fazer tudo para impedir que os fabricantes de veículos consigam o monopólio do trabalho relativo a estes sistemas. Isso teria graves consequências para o futuro das oficinas, e em última análise para o mercado pós-venda independente como um todo.

Essencialmente, as oficinas independentes têm de ser capazes de demonstrar quer competência quer rastreabilidade quanto ao trabalho que realizam nos sistemas ADAS. Tem de existir uma estrutura através da qual as oficinas sejam controladas e seguidamente registadas através de um “organismo de avaliação” que então disponibiliza um certificado/PIN que é utilizado quando se acede às peças relevantes ou aos códigos de reconfiguração através do website de um fabricante de veículos ou de um “parceiro de confiança”, como por exemplo um fabricante de ferramentas de diagnóstico.

Estes certificados/PIN também podem ser utilizados quando é efetuada uma recalibragem de um componente ADAS (por exemplo: uma câmara), sendo atualizado o registo de serviços online do veículo. O certificado/PIN apenas será atribuído à oficina caso os técnicos tenham a formação adequada e acesso a equipamento que garanta o nível necessário de competência. Dado que muitos dos veículos equipados com sistemas ADAS são “automóveis conectados”, o fabricante do veículo poderá realizar uma verificação remota para confirmar se o sistema ADAS do veículo é corretamente reparado ou recalibrado.

Investimento necessário
À medida que as tecnologias dos veículos continuam a aumentar, ocorre um inevitável aumento do investimento necessário para nos mantermos tecnicamente aptos e para sermos capazes de competir. Se os seus clientes não tiverem confiança na sua capacidade de proporcionar as reparações necessárias a um preço aceitável, então não se admire que eles vão a outro sítio que o consiga fazer. E este será provavelmente um concessionário local, mesmo que seja mais caro. Se os seus custos aumentarem, então os seus preços também terão de aumentar, mas isso irá garantir que também existe um nível idêntico de competência. Não fazer nada não é opção.

Todas as oficinas têm de investir para proporcionarem a capacidade de desenvolver novos modelos de negócio relativos ao diagnóstico, reparação e recalibragem dos sistemas ADAS. Trata-se indubitavelmente de uma oportunidade, mas esta apenas pode ser concretizada se os seus clientes tiverem confiança na sua capacidade de realizar o trabalho corretamente. Precisa então de ser capaz de criar um registo, para o caso de alguma vez ser precisa uma fiscalização daquilo que fez. Isto também garantirá que limita os seus problemas de responsabilidade.

Funções ADAS obrigatórias a partir de 2022
• Travagem de emergência avançada (automóveis)
• Pré-instalação de bloqueio devido a álcool (automóveis, vans, camiões, autocarros)
• Deteção de sonolência e distração (automóveis, vans, camiões, autocarros)
• Reconhecimento/prevenção de distrações (automóveis, vans, camiões, autocarros)
• Gravador de dados de acidentes (automóveis e vans)
• Sinal de paragem de emergência (automóveis, vans, camiões, autocarros)
• Teste de colisão frontal em toda a largura do veículo para proteção dos ocupantes – cintos de segurança melhorados (automóveis e vans)
• Aumento da zona de impacto da cabeça para peões e ciclistas – vidro de segurança em caso de colisão (automóveis e vans)
• Assistência inteligente de velocidade (automóveis, vans, camiões, autocarros)
• Assistente de manutenção de faixa de rodagem (automóveis, vans)
• Proteção para ocupantes de embate lateral contra postes (automóveis, vans)
• Câmara de visão traseira ou sistema de deteção (automóveis, vans, camiões, autocarros)
• Sistema de monitorização da pressão dos pneus (vans, camiões, autocarros)
• Deteção de utilizadores vulneráveis da estrada e aviso na frente e lateral do veículo (camiões e autocarros)
• Visão direta melhorada de utilizadores vulneráveis da estrada a partir da posição do condutor (camiões e autocarros)