“As oficinas devem investir para preparar o futuro”

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“Se é esperado que a crescente utilização de veículos elétricos venha a reduzir as tradicionais necessidades de reparação e manutenção, também é verdade que irá gerar a procura de novos serviços, nomeadamente ao nível da gestão das baterias e das atualizações de software. Neste sentido, as oficinas irão, cada vez mais, necessitar de investir em recursos humanos qualificados, formação, equipamentos e ferramentas especiais, etc”

“A velocidade da mudança dependerá dos avanços tecnológicos registados pelas marcas/fabricantes, das políticas governamentais de incentivo à aquisição de viaturas elétricas e do grau de adesão dos consumidores. As oficinas devem investir agora para preparar o seu futuro, pois a mudança poderá ser rápida e impiedosa para aquelas que não o consigam fazer”, começa por nos dizer Rui Bolas, administrador da Bolas, SA, que considera “sensato e consensual afirmar que a adoção de veículos elétricos deverá efetivamente provocar uma redução gradual do consumo das peças de média/alta rotação habitualmente utilizadas nos veículos com motor a combustão, até porventura se tornarem residuais”.

A chegada de fabricantes multimarca, de qualidade comprovada e a preços competitivos, para além das grandes marcas próprias, “é sempre um desafio para as marcas premium”, diz, pois “passam a enfrentar a concorrência ao nível do preço e também mudanças na perceção de qualidade e na lealdade por parte dos consumidores. Para competirem neste cenário, as marcas premium têm que continuar a inovar, a melhorar sua proposta de valor, a focarem-se em determinados nichos e a investirem fortemente em marketing”, defende.

A seu ver, o futuro da distribuição deve “registar fenómenos de concentração em grandes distribuidores. Acredito, porém, que continuará a existir «espaço» para distribuidores de menor dimensão, mas de elevada competência, que poderão ser muito bem sucedidos, focando-se em determinados nichos de mercado, oferecendo serviços personalizados, rápidos e de proximidade aos seus clientes”.

Rui Bolas acredita que, no futuro, “a grande maioria das encomendas a fornecedores serão colocadas em tempo real, através de sistemas de gestão de stocks integrados, o que deverá reduzir a necessidade de constituição de grandes stocks e a consequente mobilização de capital. Os distribuidores irão provavelmente colocar encomendas de menor dimensão, mas fá-lo-ão com maior frequência, o que também vai exigir dos seus fornecedores, nomeadamente através de investimento em tecnologia, maior agilidade e rapidez de entrega”.

O mesmo defende que, face à descarbonização dos transportes, os distribuidores “terão que melhorar continuamente o nível de serviço e, algo que me parece absolutamente fundamental, diversificar a sua oferta, abrangendo porventura peças para todo o tipo de veículos, apoio e consultoria em soluções de carregamento, serviços de manutenção e instalação, etc.”.

Na sua opinião, “o futuro da distribuição e do setor do aftermarket será certamente impulsionado pelos avanços tecnológicos e pela crescente importância dos veículos elétricos, agora, e porventura mais do que nunca, com foco na sustentabilidade. É isso que continuaremos a tentar fazer, ainda que as mudanças agora anunciadas possam vir a ser mais aceleradas e de maior magnitude”.

Esta entrevista também está disponível na edição impressa e online da Revista TOP100 Distribuidores 2024, aqui.