Chefe de Oficina: Cultura de cooperação!

07 - N3_cultura_cooperacao_chefe_oficina

Dar ordens, controlar e verificar foram e continuam a ser funções próprias do chefe de oficina; qualquer técnico da oficina assim o confirma como um método para cumprir com êxito o processo de reparação e de atendimento ao cliente. Mas esta abordagem será realmente uma medida suficiente e sustentável para as exigências atuais do mercado?

O chefe de oficina autoritário foca a sua atenção na competitividade, ou seja, na luta pela sobrevivência. Por isso procura melhorar face à concorrência: em menos tempo, com melhor qualidade, com menores custos, com melhores resultados, etc. O problema é que nesta competição existem vencedores e perdedores; quando existem muitos adversários a probabilidade de ser derrotado é elevada. Há sempre alguém que nos supera em algum aspeto suscitando a inevitável comparação, o que gera um certo nível de stress. Quando um chefe de oficina, pressionado pela necessidade, foca a totalidade da sua atenção no controlo, o mais provável é que os resultados não sejam bons. Possivelmente serão repetidos trabalhos que não atingem a qualidade necessária, atrasando a produção e a entrega do serviço de reparação ao cliente. As consequências finais são frustração no pessoal, incompetência, desconfiança e baixa autoestima geral, que se pode medir, por exemplo, no nível de absentismo laboral. Chegado a esta situação, o chefe de oficina, longe de encontrar solução, poderá concluir que o problema está no seu quadro pessoal e que este precisa de renovação. Volta portanto ao estado inicial, mas pressionado por uma maior necessidade de competir neste ciclo vicioso só pode ser quebrado reduzindo a pressão provocada pela prática de autoritarismo e competitividade, e permitindo que cada colaborador contribua com o melhor de si mesmo. De referir o exemplo de uma oficina com um chefe stressado. Quando este se ausentava por alguns dias o trabalho fluía, o pessoal colaborava e as tarefas eram distribuídas adequadamente. Os funcionários sentiam-se satisfeitos com o trabalho realizado e com os resultados e as sensações projetadas nos clientes. Uma pessoa afetada por uma dificuldade emocional vê reduzidas as suas capacidades intelectuais e criativas; não está nas melhores condições para ser produtiva. Evidentemente, numa oficina é quase impossível eliminar as situações de stress, devido a imprevistos, urgências, erros, etc. Face a uma situação deste tipo, o chefe competente não deve reagir gerando mais stress, mas sim refletir com serenidade e agir em conformidade, com vista a proporcionar as soluções mais vantajosas, conseguindo um ambiente de cooperação e motivação.

Atitude colaborativa
Cooperar (em vez de “lutar” ou competir) é um processo exigente, porque implica a responsabilidade de cada membro. O funcionário não pode proteger-se na sombra da responsabilidade do seu chefe, deve aplicar o seu talento e as suas capacidades com eficácia. Para o efeito, deve haver uma cultura partilhada ou hábitos comuns, englobados na missão da empresa, com objetivos baseados em valores sólidos, e considerando sempre a importância da atitude colaborativa de cada um dos membros integrantes. Se esta cultura de cooperação e estes nexos de união forem sinceros e assertivos não serão necessários grandes esforços ou sacrifícios, será necessário apenas que cada um, na sua escala laboral, dê o seu melhor de forma natural. A eficácia e a excelência profissional serão o resultado lógico destas premissas e estas qualidades vão refletir-se positivamente na perceção do cliente e do mercado.

Ser excecional para o cliente implica realçar a diferença sem a necessidade de competir. É oferecer excelência, estando consciente das debilidades para procurar corrigi-las sem comprometer o desenvolvimento, mas aumentando a confiança e a segurança no desempenho. Quando ocorrem erros no âmbito desta dinâmica colaborativa, são considerados parte do processo de rentabilidade da oficina, porque ao analisar os mesmos vamos aprender e tirar conclusões sobre o funcionamento da oficina. Ou seja, se houve uma falha na reparação ou na organização, essa mesma falha proporciona informação sobre o ponto a melhorar, com a oportunidade de transformar a debilidade numa vantagem.

Valores e atitudes do Chefe de Oficina
Humildade: Não significa abdicar de tudo, mas sim precisar de pouco, porque basta reconhecermos o nosso próprio valor e o dos demais.
Simplicidade: Fazer com que as coisas sejam simples requer uma atenção especial. E maior simplicidade, maior fluidez e mais valor.
Entusiasmo: Paixão pelo que fazemos, conferindo-lhe o valor que tem e permitindo que se expanda sem limites. O entusiasmo é o ingrediente essencial para experimentar, aprender e inovar
Capacidade de observação e escuta: Para detetar e enfrentar as necessidades, mas também para visualizar as oportunidades. É uma forma de assumir o controlo em vez de “perder as estribeiras”

Poderá também aceder a este artigo na edição impressa e online do Jornal das Oficinas nº223, aqui.