Tempos desafiantes para as empresas do aftermarket

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Antes do surto da pandemia da COVID-19, o negócio da distribuição de peças em Portugal desfrutava de uma década de margens elevadas e de um crescimento constante num ambiente estável. Agora o setor deve preparar-se para a mudança em várias frentes. Muitas tendências ameaçam abrandar o crescimento e reduzir as margens de lucro na próxima década.

As arquiteturas de veículos estão a mudar para transmissões elétricas que requerem menos manutenção. As pessoas estão a conduzir menos. A tecnologia de assistência ao condutor irá reduzir colisões e portanto a necessidade de peças de substituição. Embora os negócios estejam a recuperar da pandemia e cresçam tanto para empresas do mercado pós-venda independente e de fabricantes de equipamento original e revendedores autorizados, a transformação contínua do mercado e a crescente concorrência deixam as empresas numa encruzilhada.

Em 2021, apesar dos desafios colocados pela pandemia que ainda condicionou muitas atividades, o af- termarket conseguiu reagir e afirmar-se como um setor dinâmico, demonstrando possuir bons níveis de gestão, contribuindo para uma maior estabilidade do mercado. Os cem maiores distribuidores de peças para ligeiros faturaram em 2021 quase 1.065 milhões de euros, crescendo 13,8% sobre 2020 e 8% sobre 2019. São dados sem dúvida positivos e encorajadores para o sector, no entanto, o aumento do volume de negócios não implica necessariamente um aumento da atividade e da rentabilidade das empresas.

Para 2022, apesar da atual incerteza, espera-se que o setor encerre o ano com um crescimento no volume de negócios, em grande parte devido à inflação. Os fornecedores de peças automóveis são afetados por muitos aspetos diferentes, tais como pressões inflacionárias e tensões na cadeia de fornecimento devido a questões geopolíticas. Para além de um quadro regulamentar incerto, existe uma falta de oferta devido à escassez de certos componentes, à escalada dos preços das matérias-primas, aos custos energéticos e logísticos, o que cria um clima de incerteza que leva os consumidores a adiar a sua decisão de comprar um veículo novo. Hoje temos uma frota com mais de 13 anos em média, que afeta a segurança rodoviária e o ambiente devido às suas emissões.

Falando dos desafios dos próximos tempos, um dos principais que as empresas enfrentam atualmente é a falta de mão de obra especializada, nomeadamente nas áreas da mecatrónica e repintura. Com o aumento da procura, encontrar profissionais especializados mantém-se uma grande dificuldade para muitas empresas, e é muito provável que assim continue a ser num futuro próximo. É também determinante a formação de elevada qualidade de empresários e gestores para a reorganização e melhoria das capacidades de gestão das suas empresas.

Não há dúvida de que os desafios estão a aumentar, mas o aftermarket é um setor que, como um todo, sai sempre mais forte das crises. Enfrentar as contrariedades, às vezes, são os momentos mais ricos da nossa vida e onde fazemos mais progressos.

Num setor com tantas mudanças, não podemos nunca esquecer que a única realidade que não muda é que as empresas vivem de clientes e negócios.